São Paulo, quinta-feira, 9 de fevereiro de 1995
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Prisioneiro no palácio

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — "Eu me sinto prisioneiro no palácio", comentou, resignado, o presidente Fernando Henrique Cardoso. "Mas faz parte do contrato e não posso reclamar", acrescentou. A frase serve como sinal de que, passado pouco mais de um mês da posse, ele não vive um clima de lua-de-mel, experimentando o que se batizou de "solidão do poder".
Nas conversas com amigos e assessores, Fernando Henrique Cardoso mostra-se bem-humorado, confiante de que o julgamento de seu governo deve ser feito depois dos quatro anos de administração. Mas o primeiro mês transmitiu-lhe sinais amargos.
Ele diz que, até agora, não tem nenhuma autocrítica a fazer. Explica sua queda de popularidade através de uma conjugação infernal: vetar o mínimo, sancionar a anistia de Humberto Lucena e, forçado a organizar o governo, isolar-se em reuniões. Para Fernando Henrique, a pesquisa Datafolha espelha um julgamento precipitado.
Reclama, por exemplo, que se sentiu praticamente sozinho ao vetar o mínimo, uma das razões, talvez a mais importante, da queda de seu prestígio.
Viu-se acuado pelo Congresso e desamparado pela imprensa e, presume-se nas entrelinhas, gostaria de ter mais apoio de seus próprios ministros. Seu amigo Sérgio Motta critica, particularmente (e para quem quiser ouvir), o ministro Pedro Malan, chamando-o de passivo diante da demagogia do Congresso.
Fernando Henrique argumenta (e, aí, tem razão) que seria leviano e irresponsável se não vetasse o mínimo. Ganharia aplausos passageiros, avalia, mas pancadas duradouras quando a inflação retornasse.
Das conversas, ele indica que, entre suas prioridades, estará a composição de uma base no Congresso. Mostra-se consciente de que não terá apoios automáticos, o que lhe exigirá negociar durante quatro anos com os partidos.

PS — Numa conversa informal, Fernando Henrique demonstrou desconfiança de duas categorias: economistas e jornalistas. Produziu-se, ali, a seguinte frase bem-humorada: Os economistas adoram prever tragédias e os jornalistas adoram publicá-las. O perigo é quando você junta economistas e jornalistas numa mesma sala.

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