São Paulo, quinta-feira, 9 de fevereiro de 1995
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Briga de foice com rosário no meio

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO — O presidente da República é quem melhor conhece a utilidade da comunicação na carreira profissional de qualquer cidadão, seja ele jogador de futebol, cantor de rock, político ou cabeleireiro. Até Deus precisa de sinos —e, se a tecnologia de massa superou os sinos, o badalo continua como símbolo do barulho que cada vitorioso gosta de fazer em torno de si.
Daí a preocupação com as comunicações —arena que afinal decidirá se FHC é bom ou mau governante, se é honesto ou ladrão. E é nesta arena —sem alusão ao ex-maior partido do ocidente que continua no poder— que está sendo travada a maior batalha desse início de governo. Ou FHC se submete a ACM ou perderá sua sustentação mais eficiente. Uso propositadamente as siglas como o CPF, a CIA e o BMW.
O presidente Cardoso até que é boníssima praça, segundo o Darcy Ribeiro "é um luxo". O senador Magalhães também é um luxo em escala baiana, o que equivale a um pleonasmo. Mas tanto FHC como ACM são o que são porque representam interesses de elites que não cedem um milímetro no território do qual emerge o poder de ambos.
O presidente, como é óbvio, manipula o poder político e administrativo. O senador é a ponta de complicado iceberg cuja parte submersa foi formada por beneficiários de suas gestões, inclusive alguns empresários de rádio e TV que devem ao ex-ministro a concessão de seus canais.
Para eles, a comunicação é fundamental. O presidente pede diariamente que os ministros ocupem todos os espaços disponíveis na mídia. As multidões que lotaram o Pacaembu e o Maracanã no show dos Rolling Stones foram desperdiçadas. Ninguém no governo pensou em aproveitá-las para mais uma vez explicar a oportunidade do empréstimo ao México e a impossibilidade de aumentar o salário mínimo. O Marzagão está fazendo falta.
ACM chamou FHC de hipócrita. FHC revidou obliquamente, com a divulgação de mumunhas que deixam mal o grupo ligado a ACM. Quem ganhar a parada merecerá, como prêmio, o compacto com o santo rosário rezado pelo papa.

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