São Paulo, sexta-feira, 10 de fevereiro de 1995
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A CPI e a "propinomia"

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO — Há pelo menos um motivo de natureza pragmática (além da ética) para se defender uma CPI das empreiteiras.
Em mesa-redonda durante o Fórum Econômico Mundial, encerrado dia 31 passado na Suíça, o juiz italiano Antonio di Pietro, um dos principais responsáveis pela chamada "Operação Mãos Limpas", afirmou que o preço das obras públicas em seu país reduziu-se cerca de 35% depois de iniciada a investigação.
Para quem não lembra ou não acompanhou, a "Mãos Limpas" investiu fundo na ligação entre políticos e empreiteiras, tangenciando, necessariamente, o crime organizado.
Este, pela enorme quantidade de recursos que movimenta, passou a criar empresas de fachada (que ganhavam concorrências públicas) como meio de lavar parte do dinheiro sujo.
O importante aí não é tanto a questão do crime organizado, mas a queda de preços nas obras governamentais. Fica evidente, pelo exemplo da Itália, que a cobrança de sobrepreço é um fenômeno mais ou menos generalizado. É a comissão, os 10% clássicos (antigamente, hoje já é mais) ou as "tangentopoli", como preferem os italianos.
Tão disseminado está o costume que o Fórum Econômico Mundial criou um neologismo como tema para a mesa-redonda em que o assunto foi discutido: "Bribonomics". Seria, em português, mais ou menos o equivalente a "propinomia", mistura de propina com economia.
No Brasil, as investigações sobre corrupção são tão precárias que é razoável supor que, mesmo após o escândalo do Orçamento, os preços das obras públicas não tenham se reduzido. Ao menos, não na proporção verificada na Itália, pelas contas do juiz di Pietro.
Para um governo que está procurando todos os caminhos para conter o déficit público, fica a obrigação pragmática (além da moral) de também defender a CPI. Afinal, com tanta infra-estrutura a construir ou reconstruir, economizar 35% em cada obra seria ouro sobre azul.

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