São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 1995
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FHC diz que aliados se opõem a reformas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao fazer ontem o seu discurso mais enfático na defesa da reforma constitucional, o presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que a maior resistência às mudanças no sistema tributário deverá vir dos seus aliados do governo. Chamou de "mesquinhos" e "atrasados" os que se opõem à reforma.
"A negociação mais difícil é entre o governo central, os Estados e os municípios. Não é entre o empresariado e o governo. A discussão é interna, é a repartição do bolo", declarou FHC.
Esse novo imposto seria cobrado pelo governo federal e depois repartido entre União, Estados e municípios. Governadores e prefeitos temem perder a autonomia sobre duas importantes fontes de receita.

"Não é fácil"
O presidente falava para cerca de 200 dos mais importantes empresários do país reunidos no Palácio do Planalto, um dia depois do seminário de que participaram com os ministros encarregados de alavancar a reforma.
"Precisamos ter muita capacidade de convencer os nossos aliados políticos e os governadores em geral. Não é fácil essa tarefa, mas temos que fazê-la", disse o presidente.
Seus ouvintes eram os membros do Conselho Consultivo de Competitividade e os dirigentes da Ação Empresarial.
Um dia antes, após uma reunião com os ministros envolvidos na reforma constitucional, vários desses mesmos empresários haviam manifestado o receio de um recuo nas propostas do governo, especialmente quanto às mudanças na ordem tributária.
Como se respondesse a isso, FHC abriu o discurso de ontem —feito de improviso— afirmando que "A reforma não se faz com um golpe, não se faz com um ato isolado".

Murro na mesa
O presidente defendeu que a reforma é um "processo", que deverá envolver muita discussão e irá ocupar pelo menos os quatro anos de seu governo. "Ninguém vai impor nada a ninguém", declarou.
Mesmo assim, a maior preocupação do presidente foi mostrar a reforma como fato irreversível.
"Eu fico muitas vezes olhando análises: 'O presidente não vai conseguir isso, não vai conseguir aquilo'. Vai, sim. E não é o presidente, não. O Brasil vai se impor e vai fazer as reformas necessárias", disse FHC, terminando a frase com um murro na mesa.

Mesquinhos
Bastante aplaudido na meia hora do discurso, Fernando Henrique criticou os que se opõem à mudança da Constituição. Chamou-os de "mesquinhos" e "espíritos atrasados". Mandou um recado a quem fala em preservar as "conquistas" da Constituição.
"Conquista é ter a possibilidade de continuar avançando e que as gerações futuras também avancem. Conquista em que uma geração dilapida o que tem hoje para que, no futuro, não se tenha nada não é conquista, é retrocesso", disse FHC, emendando: "Não me venham com choramingas".
Ao tratar da reforma política —a ser desencadeada numa fase posterior—, FHC defendeu o voto distrital misto.
Lembrou que há no Congresso um projeto seu, com esse objetivo. A exemplo do que fez com a lei de concessões, também de sua autoria, disse que vai aproveitar a Presidência para incentivar a aprovação do novo sistema eleitoral.

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