São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 1995
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Exército mexicano inicia cerco a rebeldes

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Tropas do Exército mexicano se apoderaram ontem dos povoados de Guadalupe Tepeyac e Aguascalientes, no Estado de Chiapas, em pleno território do movimento guerrilheiro Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN).
As duas cidades ficam na selva Lacandona, o principal reduto dos zapatistas.
O governo do presidente Ernesto Zedillo parece estar disposto a cumprir a ordem de prisão aos cabeças do EZLN, entre eles o líder Marcos, identificados anteontem.
Na madrugada de ontem, forças do governo penetraram na selva Os zapatistas declararam alerta vermelho. O capitão Lúcio, da EZLN, informou que os guerrilheiros minaram os acessos às zonas sobre seu controle.
A caçada a Marcos aumenta a possibilidade da volta de enfrentamentos entre guerrilha e governo, que já matou mais de 100 pessoas.
Zedillo havia anunciado na quinta ter descoberto a verdadeira identidade do líder do movimento guerrilheiro do Estado de Chiapas.
O misterioso subcomandante Marcos seria na verdade Rafael Sebastián Guillén Vicente, de 38 anos. É branco, tem 1,75 metro e estudou em colégio de jesuítas.
Segundo diferentes versões, ele seria formado em filosofia, sociologia ou letras. Teria sido professor de 1979 a 1983.
A polícia já tem também uma foto de Rafael Vicente. Até agora, Marcos e os demais zapatistas sempre apareciam com o rosto coberto por uma máscara preta de lã.
Segundo Zedillo, o EZLN estava preparando um plano de ação, em lugar de buscar a paz. Ele ordenou a captura de Marcos e de outros quatro líderes.
A polícia chegou à identificação dos guerrilheiros através de informações de María Gloria Benavides, ou subcomandante Elisa.
Ela havia sido presa na quarta-feira em uma casa de um bairro de classe média na Cidade do México (capital), junto com um arsenal de uso exclusivo do Exército e documentação da EZLN.
Na quarta-feira, a polícia mexicana havia conseguido capturar vários zapatistas em Toluca, a 60 km da capital. Os policiais prenderam um homem fortemente armado, que acabou indicando onde se encontravam outros zapatistas.
Socorro de Guillén, a mãe de Rafael, se disse alarmada com a notícia de que seu filho seria o líder guerrilheiro. Segundo ela, ele desapareceu há cerca de oito anos.
Não foi um mal filho , afirmou, dizendo que eram comum suas desaparições durante meses.
O nome do subcomandante Marcos sempre foi cercado de polêmica e mistério. Marcos aparece constantemente nos jornais e televisões, raramente se negando a falar com a imprensa.
Fuma cachimbo, usa sempre sua máscara preta e monta um cavalo castanho. É muito inteligente, e seus inúmeros comunicados foram elogiados pelo Prêmio Nobel da Literatura Octavio Paz.
Chamado de Che do fim do século, genial estrategista militar, inimigo do México, transgressor, cura esquerdista, o mistério começa por seu título.
Ele é chamado de subcomandante porque supostamente seria subordinado a uma comissão de indígenas que seriam os verdadeiros líderes do EZLN.
Marcos teria sido treinado nos anos 80 por Lenin Cerna, comandante nicaraguense e próximo ao ex-presidente Daniel Ortega.
A informação teria sido passada por um outro zapatista preso, que disse ainda que o EZLN, que iniciou suas atividades em 1º de janeiro de 1994, conta com 12 mil homens, dos quais apenas 2.000 teriam armas adequadas.
Segundo o presidente mexicano, o germe do EZLN seria o grupo guerrilheiro Forças Armadas de Libertação Nacional, formado em 1969 e que foi desarticulado pelo governo em 1974.
Jorge Santiago, um dos homens apontados pelo governo como membro da guerrilha zapatista, negou ontem qualquer envolvimento com o movimento.

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