São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SIGNOS EM ROTAÇÃO

O ano astrológico de 1995 começou mais cedo. O Sol ainda ia longe de entrar em Áries e já os humanos se viam frente à perspectiva de uma revolução astral. Requisitada a esclarecer as diferenças entre o céu astrológico e o céu real em uma entrevista ao jornal britânico "Daily Telegraph", a astrônoma Jacqueline Mitton, relações-públicas da Royal Astronomical Society, declarou que se o zodíaco refletisse a realidade, existiriam 13 signos, e não 12. Disse ainda que as datas de início e término dos signos seriam outras. Mitton jura que só queria esclarecer. O que não previa era que, nos dias que se seguiram, seu inocente exemplo correria o mundo na forma de uma nova —e revolucionária— proposta de zodíaco, que transformou, num passe de mágica, audaciosos arianos em piscianos sensíveis e sex-symbols leoninos em cancerianos tímidos, além de fazer sagitarianos idealistas acordarem com poderes sobrenaturais de cura, sob a estranha alcunha de esculapianos.
"Preciso explicar que não fui a público lançar esse debate", disse Mitton à Revista da Folha, em entrevista por telefone. "Esclarecer que o céu astrológico não reflete o céu real é parte do meu trabalho. Faço isso o tempo todo. Muitas pessoas acreditam que o que os astrólogos dizem que está acontecendo no céu está mesmo. Quando descobrem que não é, se sentem traídos. Por outro lado, essa confusão favorece a ignorância generalizada sobre o que acontece realmente no céu". Sobre o efeito bombástico de seu exemplo, diz que ficou surpresa. "Impressionou-me que tanta gente desconhecesse as diferenças entre fatos astrológicos e fatos astronômicos".
Para mostrar que a astrologia não respeita os fatos astronômicos, Mitton esculachou uma tabela cujas origens se perdem no tempo (supõe-se que o zodíaco tradicional tenha sido criado pelos babilônios, ou herdado dos sumérios, por volta do ano 4000 a.C.). Botou dois reparos. Primeiro: como as constelações que dão nome aos signos não ficam dispostas no céu a exatamente 30 graus de distância uma da outra —ou seja, da forma que aparecem no zodíaco—, e, não bastasse, se movem lentamente através dos séculos, as datas de início e término dos signos estão erradas e devem ser redefinidas (veja, no quadro ao lado, a divisão zodiacal tradicional e a astronômica). Segundo: como são 13 as constelações que o Sol encobre todos os anos na mesma época —conforme a translação da Terra, conhecida como eclíptica—, 13 deviam ser os signos do zodíaco.
A constelação "limada" pelos antigos que inventaram o zodíaco chama-se Ofiúco. Conhecida há séculos, fica ao sul de Hércules, ao norte de Escorpião e Sagitário, a oeste da Cauda da Serpente e a leste de Libra.

Texto Anterior: O rei está nu
Próximo Texto: SIGNOS EM ROTAÇÃO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.