São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
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Cartas revelam laços entre Rilke e Balthus

SEBASTIANO GRASSO
DO "CORRIERE DELLA SERA"

O artista Balthasar Klossowski de Rola, mais conhecido como Balthus, tem apenas 12 anos, em 1920, quando o poeta alemão Rainer Maria Rilke —então com 45 anos— começa a escrever-lhe, em francês, estas oito cartas, cedidas a nós pelo pintor (há alguns anos, Balthus fez algumas poucas cópias para dar aos amigos) que publicamos agora, com exclusividade.
Balthus nasce em Paris, em 1908. Seus pais são exilados de origem polonesa. Pintora, a mãe, Baladine; historiador e crítico de arte, o pai, Eric. Entre os amigos de família estão os pintores Bonnard, Derain, Cézanne, Vuillard, Miró, Masson. E ainda, com o tempo, os escritores Rilke, Artaud, Camus, Malraux.
Em 1917, o conde Klossowski se transfere, com mulher e filhos, para o campo em Conches, nas proximidades de Genebra.
A primeira carta é de 24 de novembro de 1920. Rilke escreve do castelo de Berg-am-Irchel, em Zurique (Suíça), onde fica até julho de 1921.Se transfere então para Muzot, em uma construção medieval (que lembra a famosa torre de Hõlderlin), lugar de seu último período criativo.
Nessa carta aventa um contrato editorial. Do quê se trata? Alguns anos antes, Bhaltus havia achado um gatinho (batizado Mitsou). Depois de algum tempo, porém, o animal, amadíssimo, desaparece. Angústia do menino, que começa a retratá-lo em um álbum de desenhos. O gato, todavia, será um dos sujeitos preferidos de sua paleta, como na série "Chat au Miroir".
Provavelmente foi a mãe de Balthus, a amada "Merline", que Rilke conhecera naquele mesmo ano, a mostrar-lhe as imagens. Apreciando, o autor de "Cadernos de Malte Lauris Brigge" decide publicá-las, com um breve prefácio seu. A primeira edição de "Mitsou: 40 Imagens por Balthus" sai em 1921.
As oito cartas vão de 1920 a 1926, ano em que Rilke morre de leucemia. Portanto, dos 12 aos 18 anos de Balthus.
Foram escritas como para uma pessoa adulta. O grande poeta de língua alemã —recorda o pintor em entrevista a Costanzo Constantini (a sair pela editora francesa Deno‰l, junto com as oito cartas)— tinha "uma capacidade extraordinária de falar a crianças como se fossem grandes". Não por acaso era autor de "Storie del Buon Dio", ciclo de contos "narrados aos adultos pelas crianças".
Essas velhas cartas testemunham sobretudo um estilo epistolar refinado e agora desaparecido. Um exemplo? O modo com o qual Rilke fala do aniversário do jovem Balthus. As muitas elegantes frases pela ocorrência, que cai a cada quatro anos: o 29 de fevereiro bissexto. Também o jovem artista responde a Rilke, naturalmente, mas das cartas não há vestígios.
O interesse de Rilke pelas artes figurativas nasce em 1900, quando conhece a escultora Clara Westhoff, aluna de Rodin, com quem se casa um ano depois. A Rodin dedica um pequeno ensaio.
Em 1902 publica uma monografia sobre os pintores do grupo de Worpswede, evocando também Millet e Segantini. Frequenta museus, salões e artistas.
Em outubro de 1907, o impacto com Cézanne. Depois de ter estado muitas vezes no Grand Palais, escreve suas impressões à mulher ("Cartas sobre Cézanne", Electa, 1984). Queria também tentar uma monografia sobre o pintor francês, mas não o faz.
Na galeria, encontra vários Picassos, Matisses, Braques etc. Frequenta Klee e Kandinsky. Escreve sobre arte. Trata-se, naturalmente, da impressão de um escritor. Senão, como se explicaria a comparação entre Van Gogh (pelo qual se interessa também Hoffmannsthal) e São Francisco?

Tradução de Anastasia Camapanerut

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