São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995 |
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Zurique quer deixar de ser centro de drogas
CLAUDINÊ GONÇALVES
A maior cidade suíça não quer mais ter sua imagem manchada no mundo inteiro. Conhecida anteriormente por sediar os grandes bancos, de uns anos para cá Zurique se tornara o maior supermercado de drogas da Europa. No local, eram vendidas 14 mil doses de heroína por dia, a US$ 37 cada uma. Junto com outras drogas, o faturamento anual é calculado em US$ 130 milhões. O problema das drogas pesadas começou em Zurique há quase 30 anos. A reação oficial sempre oscilou entre a repressão e a liberalização. No final dos anos 70, uma dose de heroína custava US$ 300. Hoje, qualquer estudante secundarista pode comprar. A situação se complicou ainda mais com a chegada da Aids, nos anos 80. Depois de muita polêmica, os serviços sociais começaram a distribuir seringas para evitar a propagação do HIV. Somente em 1994, foram distribuídos 4 milhões de seringas. Duas razões explicam a atual fase repressiva: a classe média alta residente no bairro se aborreceu e o "dumping" dos preços colocou os traficantes em polvorosa, com tiroteios e mortes. A direita e a extrema direita emergentes aproveitaram a ocasião para atacar a política liberal do governo socialista. Como Zurique é o Cantão mais rico e poderoso da Suíça, fizeram campanha nacional e os eleitores aprovaram uma lei que facilita a expulsão dos estrangeiros ilegais, eliminando a possibilidade dos recursos na Justiça. Em princípio, a lei foi feita contra os pequenos traficantes que abastecem o mercado da droga —e que, em sua maioria, são imigrantes clandestinos ou requerentes de asilo e, desde 1º de janeiro, podem ser automaticamente expulsos. O problema da droga na Suíça não é limitado a Zurique. Mortes por overdose ocorrem quase que diariamente, até nas pequenas cidades, em todas as regiões do país. É mais grave em Zurique porque é a maior cidade e também porque outras regiões optaram por políticas repressivas e não permitiram a instalação de zonas abertas de tráfico e consumo. E o que vai acontecer com os viciados? Muitos vinham das regiões mais repressivas do país e serão mandados de volta. Para os viciados de Zurique foram gastos US$ 74 milhões na instalação de centros de injeção e assistência médica e social. Tudo isso e mais 300 policiais em pé de guerra para tentar evitar o que ocorreu em fevereiro de 1992, quando o penúltimo "parque de drogados" foi fechado, ao lado do Museu Nacional suíço, e renasceu a poucas centenas de metros dali, na estação de Letten, evacuada ontem. Enquanto isso, o governo federal autoriza projetos piloto de distribuição gratuita de heroína, sob rigoroso controle médico. Texto Anterior: Combates diminuem, afirma o Equador Próximo Texto: ONU acusa 21 sérvios de genocídio Índice |
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