São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
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ONU acusa 21 sérvios de genocídio

DA REUTER

O tribunal da ONU para crimes de guerra na ex-Iugoslávia, reunido em Haia (Holanda), acusou ontem 21 sérvios de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, cometidos em 1992 no campo de concentração de Omarska, no noroeste da Bósnia.
O tribunal, sediado em Haia (Holanda), anunciou a expedição de ordens de prisão contra Zeljko Meakic e outros 20 acusados.
Em meados de 1992, as imagens na TV de prisioneiros muçulmanos e croatas famintos, olhando de trás das cercas de arame farpado de Omarska, causaram uma onda de indignação internacional.
"Os prisioneiros eram mantidos sob guarda armada em condições brutais. Foram assassinados, estuprados, espancados e maltratados de outras maneiras", disse a corte.
O tribunal internacional, que deve iniciar o julgamento nos próximos dois meses, é o primeiro desse tipo desde os processos contra líderes nazistas e japoneses em Nurembergue e Tóquio, ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Os rebeldes sérvios que lutam contra a independência da Bósnia estabeleceram o campo de Omarska em uma mina de ferro depois de conquistar a região de Prijedor, no início de 1992. Eles mantiveram mais de 3.000 prisioneiros croatas e muçulmanos ali entre maio e agosto daquele ano.
"Um dos quatro edifícios do complexo era chamado de 'casa vermelha': a maioria dos prisioneiros levados para lá não saiu com vida", afirmou o tribunal.
Como comandante do campo, Zeljko Meakic foi cúmplice no assassinato de croatas e muçulmanos bósnios com o objetivo de provocar sua "destruição física como grupos nacionais, étnicos ou religiosos", diz a acusação.
Um dos subcomandantes, Mladen Radic, é acusado de cinco estupros. Outros réus são acusados de assassinatos, torturas, espancamentos e de humilhar prisioneiros.
Sobre o guarda Milan Pavlic pesa a acusação de ter matado um homem idoso a tiros porque ele se recusou a sentar-se.
Um grupo de guardas sérvios teria ordenado a um grupo de prisioneiros "que bebesse água como animais, de poças no chão". Os prisioneiros desse grupo foram espancados até que não pudessem mais se mexer.
Impunidade
Até agora, apenas um dos acusados, Dusan Tadic, está preso. Ele está numa cadeia alemã e deverá ser extraditado em março para a Holanda, para ser julgado.
Acredita-se que os demais acusados estejam à solta nas áreas da Bósnia sob controle sérvio. Funcionários do tribunal internacional acham possível que eles nunca venham a ser julgados.
A corte não pode julgar réus in absentia, mas os acusadores podem apresentar suas evidências e convocar testemunhas em sessões públicas mesmo contra réus que não compareçam perante os juízes.
"Isso exporia o suspeito à opinião pública mundial como um fugitivo da Justiça e o tornaria um prisioneiro em seu próprio país, disse um funcionário do tribunal".
O principal responsável pela acusação, Richard Goldstone, afirmou que outros indiciamentos serão anunciados nas próximas semanas e que líderes militares e políticos poderão ser acusados.
"Se encontrarmos evidência de que a liderança sabia de violações sérias da lei internacional, também tentaremos responsabilizar esses líderes", disse Goldstone.
Funcionários do tribunal afirmaram que crimes cometidos por croatas e muçulmanos também estão sendo apurados, mas não há detalhes sobre essas investigações.
Sem concessões
O Parlamento da "república sérvia da Bósnia" rejeitou ontem o plano de paz para a ex-república iugoslava formulado pelo Grupo de Contato (EUA, Rússia, Alemanha, Reino Unido e França).
"Não queremos viver na Bósnia. Queremos que a comunidade internacional reconheça o nosso Estado", discursou o líder dos sérvios, Radovan Karadzic.
A minoria sérvia iniciou a guerra em abril de 1992, depois de boicotar um referendo em que croatas e muçulmanos decidiram pela independência da república.
O plano do Grupo de Contato formaria uma confederação de cantões autônomos em que os sérvios teriam metade do território.

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