São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
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Zurique quer deixar de ser centro de drogas

CLAUDINÊ GONÇALVES
ESPECIAL PARA FOLHA, DE ZURIQUE

A maior cidade suíça não quer mais ter sua imagem denegrida no mundo inteiro. Conhecida anteriormente por sediar os grandes bancos, de uns anos para cá, Zurique se tornara o maior supermercado de drogas da Europa.
A dez minutos a pé do centro da cidade, numa estação de trem abandonada, desde 1992 eram vendidas, em média, 14 mil doses de heroína por dia! a 37 dólares cada uma. Junto com outras drogas, o faturamento anual é calculado em 130 milhões de dólares.
O problema das drogas pesadas começou há quase 30 anos, sempre oscilando entre repressão e liberalização. No final dos anos 70, uma dose de heroína custava 300 dólares. Hoje, qualquer estudante secundarista pode comprar.
A situação se complicou um pouco mais com a chegada da AIDS, nos anos 80.
Depois de muita polêmica, os serviços sociais começaram a distribuir seringas gratuitamente para evitar a propagação do virus HIV. Em 1994, foram distribuidas 4 milhões de seringas.
Duas razões explicam a atual fase repressiva: a classe média-alta residente no bairro se aborreceu e o "dumping" dos preços botou os traficantes em polvoroza, com tiroteios e mortos.
A direita e extrema-direita emergentes aproveitaram a ocasião para atacar a política liberal dos socialistas. Como Zurique é o Cantão mais rico e poderoso da Suíça, fizeram campanha nacional e o povo aprovou uma lei que facilita a expulsão dos estrangeiros ilegais, eliminando a possibilidade dos recursos em Justiça. Para muitos juristas, está no limite dos direitos humanos.
Em principio, a lei foi feita contra os pequenos traficantes que abastecem o mercado da droga que, em sua maioria, são clandestinos ou requerentes de asilo e, desde primeiro de janeiro, podem ser automaticamente expulsos.
O problema da droga na Suíça não é limitado a Zurique. Mortes por overdose ocorrem quase que diariamente até nas pequenas cidades em todas as regiões do país. É maior em Zurique porque é a maior cidade e também porque outras regiões optaram por políticas repressoras e não permitiram a instação de zonas abertas de tráfico e consumo.
E o que vai acontecer com os viciados? Muitos vinham das regiões mais repressoras do país e serão mandados de volta. Para os toxico- dependentes de Zurique foram gastos 74 milhões de dólares na instalação de centros de injeção e assistência médico-social.
Tudo isso e mais 300 policiais em pé de guerra para tentar evitar o que ocorreu em fevereiro de 92, quando a penúltima cena aberta foi fechada, ao lado do museu nacional suíço, e renasceu centenas de metros mais longe na estação do Letten, evacuada hoje. Enquanto isso, o governo federal autoriza projetos-piloto de distribuição gratuita de heroína sob rigoroso controle médico.

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