São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

França quer fechar Europa à TV dos EUA

MARCEL MICHELSON
DA REUTER, EM BORDEAUX

A França prometeu que vai brigar por restrições maiores ao número de filmes norte-americanos difundidos pela TV européia, afirmando que se isso não for feito a indústria cinematográfica da UE (União Européia) vai falir.
Mas quando Paris consultou outros países da UE sobre a suposta ameaça de domínio de Hollywood sobre a TV, vários se mostraram indiferentes e o Reino Unido foi abertamente hostil à proposta.
A França queria o apoio dos ministros da Cultura de toda a EU à sua posição, favorável à proteção da herança cultura européia ocidental contra a enxurrada de filmes exportados pelos EUA.
O ministro francês, Jacques Toubon, disse em reunião com seus colegas em Bordeaux que a Europa precisa lutar para impedir que as TVs do continente difundam quase somente produtos norte-americanos.
"Se a Europa seguir o exemplo da França em sua busca por uma identidade européia, ficarei muito otimista, mas se ela optar por se render, ficarei muito pessimista", declarou Toubon.
O que está em jogo é uma mudança na legislação européia. Segundo a diretiva Televisão sem Fronteiras, de 1989, 50% da programação das TVs européias precisa ser preenchida por produtos europeus, quando possível.
A França quer tornar essas quotas obrigatórias e Toubon prometeu lutar para que isso aconteça.
Espanha e Itália estão de seu lado e a Bélgica já usou o argumento favorável ao conteúdo local para manter fora do país o canal TNT, pertencente a Ted Turner, dono também da rede CNN.
Mas o Reino Unido discorda e quer acabar completamente com as quotas. Acredito que elas criam uma contradição irreconciliável no âmago da diretiva. A melhor opção seria eliminá-las completamente ou de forma gradativa, escreveu Stephen Dorrell, ministro do Patrimônio Nacional britânico, na edição de ontem do jornal Financial Times.
A Alemanha, cujo voto sempre é importante para decidir questões européias, está em cima do muro. Ela espera por uma decisão da Alta Corte de Karlsruhe, em março próximo, para saber se é o governo alemão ou as regiões federadas do país que terão poderes decisórios sobre o tema.
"Queremos ser bons europeus", disse um diplomata alemão, acrescentando que tanto a posição francesa quanto a britânica "valem a pena ser discutidas".
A Holanda quer manter as atuais quotas flexíveis e observa que os principais países europeus estão aderindo às normas.
A discussão começará a ser travada a sério hoje, quando o ministro francês do Orçamento e das Comunicações, Nicolas Sarkozy, cujo nome está sendo cogitado para ser o próximo primeiro-ministro, se reunir ao grupo.
No final do ano passado essa questão atrapalhou as últimas negociações no Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, que reúne mais de 120 países), substituído em janeiro pela OMC (Organização Mundial do Comércio).
Ontem os ministros reunidos em Bordeaux concordaram em pedir à Comissão Européia o esboço de um conjunto de medidas para ajudar a emergente indústria de multimídia do continente em questões técnicas, jurídicas e financeiras.
"Se isso não for feito, as superinfovias da sociedade informatizada do futuro ficarão abarrotadas apenas de produtos norte-americanos e japoneses", afirmou um diplomata francês.
Eles acertaram ampliar os programas Kaleidoscope e Ariane para artes e a literatura.
O ministro irlandês, Michael Higgins, com o apoio de Portugal, sugeriu que o acordo sobre livros seja aplicado em toda a Europa.
Esse acordo, já em vigor em muitos países, prevê que um livro tenha o mesmo preço numa grande loja de departamentos que numa livraria pequena. No Reino Unido, o acordo está sendo combatido pela rede de livrarias Dillons.

Texto Anterior: Zurique quer deixar de ser centro de drogas
Próximo Texto: México diz ter retomado pleno controle de Chiapas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.