São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
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Criatividade educacional

Um estudo divulgado ontem por esta Folha acerca de experiências educacionais na rede pública revelou a existência de diversas ilhas, se não de excelência, pelo menos de avanços sensíveis na luta contra problemas crônicos do setor, tais como evasão e repetência. O que chama mais a atenção é que esses avanços foram obtidos de forma própria, a partir da iniciativa de cada escola e comunidade.
Os brasileiros de fato cultivam o hábito e a tradição de culpar sempre o governo por males de toda sorte. Sem dúvida, muitos deles são mesmo de origem oficial. Ainda assim, a pesquisa —elaborada pelo Centro de Pesquisas para Educação e Cultura com apoio do Unicef— ilustra que criatividade e esforço localizados podem render ganhos muito concretos.
O trabalho selecionou experiências de 16 escolas em 11 Estados, cada qual buscando estratégias próprias. Assim, uma escola de Maranguape (CE) discute com pais de alunos o calendário letivo de modo a adaptá-lo às épocas de plantio e colheita. Em Ijuí (RS), os professores passam um dia por semana numa universidade local fazendo cursos de reciclagem.
Uma escola em São Paulo fez um acordo com uma instituição de ensino privada para uso de material didático, passou a fazer com que o mesmo professor acompanhe uma turma em todo o primeiro grau e reduziu a repetência de 30% para 5% em 9 anos. Há ainda escolas que obtiveram apoio de empresas para manutenção e outra que foi construída pela associação de moradores do bairro, na qual muitas funcionárias são mães de alunos.
O trabalho ressalta tanto a diversidade de abordagens como o ponto comum do envolvimento dos pais e da comunidade. E a variedade da localização geográfica e das condições socioeconômicas nas escolas pesquisadas refuta a idéia de que essa participação só ocorreria em ambientes mais desenvolvidos.
É evidente que se deve cobrar das várias esferas de governo mais atenção, eficiência e critério nos gastos com educação —feitos, afinal, com o nosso dinheiro.
Mas é hora também de a sociedade perceber que não depende do governo para tudo e que, pricipalmente nas esferas mais próximas da vida cotidiana, também ela pode e deve intervir, defender seus interesses e transformar sua realidade.

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