São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
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Engenheiros de obras feitas

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - É formidável ver como alguns ministros resolvem rápida e facilmente todos os problemas do país. Desde que, é claro, já tenham deixado o governo, no qual, aliás, não resolveram problema algum —e, não raro, agravaram os que existiam.
Dois expoentes dessa categoria de engenheiros de obras feitas desfilaram domingo pelas páginas desta Folha: o deputado federal Roberto Campos (PPR-RJ) e o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Campos ensinou como eliminar a pobreza. Justo ele que, durante o ciclo militar, foi um dos ideólogos de um período que só fez agravar o problema da concentração de renda, que já era grave antes.
Agora, o deputado descobriu a receita: privatizar, abrir para o capital estrangeiro e diminuir encargos sociais. Bobagem. São recursos que, de fato, têm sua utilidade, mas, como fórmula para errradicar a miséria, é tão simplória quando a crença cega no Estado como factótum do bem-estar social.
Vide México. Ou, se se preferir, confira-se as estatísticas do modelo de Campos, a Inglaterra: a aplicação firme dessas regrinhas simplistas apenas tornou mais ricos os já ricos e mais pobres os mais pobres.
Já ACM dá aulas de como ser governo. Justo ele que, pelo menos nos últimos 30 anos, participou de e/ou apoiou todos os governos de turno. Governos que enfiaram o país na mais grave crise de sua história republicana, para citar o programa de governo de Fernando Henrique Cardoso, que ACM endossou durante a campanha.
Pena que as lições de ACM cheguem tarde. Ele diz, por exemplo, que "matava-se" durante o ciclo militar. Descoberta feita com uns 20 anos de atraso pelo menos. "Torturava-se" e "exilava-se" também, sem que se conheça uma só palavra dele contra tais práticas.
ACM poderia igualmente ensinar a combater a inflação. Afinal, foi o único ministro civil que ficou no cargo todos os cinco anos do período Sarney, aquele que terminou com o recorde histórico de 80% de inflação mensal.
Com profetas como esses, não há país que resista.

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