São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
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Por que ACM é admirável?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — Depois de levar seguidas e públicas estocadas do governo, o senador Antônio Carlos Magalhães decidiu contra-atacar em entrevista à repórter Flávia de Leon, da Folha. E, curiosamente, foi ajudado pelo próprio governo.
As respostas publicadas ontem mostram um fato curioso: o governo se machuca não com os ataques que recebe, mas com as respostas que faz divulgar.
O presidente do PSDB, Pimenta Veiga, disse a seguinte e magistral frase: "O PFL deve tomar providências sobre a insubordinação de seu senador e enquadrá-lo na base do apoio ao governo".
É mais fácil ACM enquadrar Pimenta da Veiga, presidente de outro partido, do que o PFL enquadrar ACM. Ele é sócio majoritário do PFL e ganhou mais algumas ações desde que seu filho virou presidente da Câmara e um dos seus protegidos ganhou o Ministério das Minas e Energia.
Sérgio Motta saiu-se com a seguinte frase que mistura ironia com fraqueza: "Nós admiramos muito Antônio Carlos e o papel que ele tem no país". Num dia, ele ataca a jogatina política em que se transformou o Ministério das Comunicações e, depois, pede desculpas envergonhadas.
Se um indivíduo não tem força de discutir com virulência, não deve atacar com virulência —nisso, pelo menos, ACM é coerente. Afinal, o que é admirável em ACM? A habilidade em montar um império de comunicação? Sua capacidade de sobreviver a todo e qualquer governo? Sua adesão ao regime militar? Ter conseguido se aposentar como professor sem nunca ter dado uma aula?
Seria admirável a agressão cometida contra uma repórter de TV? Na quinta-feira passada, ela ousou perguntar sobre suas ligações com a OAS e mereceu um aperto no pescoço.
ACM tem até razões para ficar irritado. Os tucanos foram pedir seu apoio na campanha eleitoral —e ele deu. Não é o único, mas é um dos responsáveis pela virada no Nordeste. Mas, acabada a eleição, "descobrem" que, em sua gestão como ministro, as concessões prestaram-se para politicalha.

PS — A repórter Flávia de Leon até que teve sorte na entrevista. Perguntou sobre o caso OAS, não teve de sair correndo e nem sentiu uma mão apertando seu pescoço.

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