São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O homem triste

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO — Ele está tão triste que não consegue fazer o que mais gosta na vida. Sua tristeza é evidente, está ali estampada no rosto encovado, nas olheiras e no semblante taciturno. Tristeza, muita.
E a culpa nem é totalmente dele. Afinal, o que tinha feito de errado? Sempre fora assim, moleque, inconsequente, travesso, provocador, predicados que estão na gênese de seu talento. E principalmente sempre foi um galanteador, daqueles que não conseguem deixar pra lá um rabo de saia.
Agora vem todo mundo pra cima dele como se fosse o pai de todas as desgraças.
Ele não pediu para ser o centro das atenções, embora goste demais disso. Ele não quis se enfiar em tantas confusões, embora sempre as atraia aos montes. Ele nunca imaginou que seria tão fácil passar de herói a vilão tão rapidamente.
Agora deu no que deu: a mulher quer ir embora, a mãe está bronqueada, os fãs inconformados, até da Espanha vem gente querendo tirar uma casquinha dele.
E ele não consegue, não tem a inspiração, não acha o caminho para fazer o que mais sabe, o que mais gosta: gols.
Em nome da beleza do espetáculo e pelo fim da tristeza, deixem o Romário em paz!

Quem vai se responsabilizar pela falsa expectativa que se criou entre a gente de bem do Rio de Janeiro por conta da ação das Forças Armadas no combate à criminalidade?
Agora que as mortes voltaram a ocorrer, o que o carioca vai fazer com o sentimento legítimo de esperança que alimentou durante o período em que a pirotecnia militar sugeria que alguma coisa iria mudar?
Essa frustração só aumenta o trabalho das autoridades estaduais, que além de tudo terão de enfrentar a descrença de quem se sentiu enganado.

Texto Anterior: Por que ACM é admirável?
Próximo Texto: Vidas paralelas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.