São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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Prioridade é aparecer

A notícia de que um administrador regional de saúde determinou a utilização de seringas de vidro em pronto-socorros da prefeitura é extremamente preocupante.
A reutilização de seringas de vidro contraria recomendação da Organização Mundial de Saúde, pois é capaz de transmitir uma série de doenças, da fatal Aids à hepatite.
Há que se considerar ainda o fato de que, uma vez que as seringas de vidro não são utilizadas há muito tempo, a enfermagem já não conhece bem os procedimentos corretos de esterilização, expondo assim as pessoas que utilizam os pronto-socorros municipais a um risco ainda maior.
É de se indagar o porquê de o administrador ter chegado ao ponto de baixar a determinação. Parece claro que os estoques de seringas descartáveis mantidos pela prefeitura são muito baixos. E, mesmo que as compras sejam descentralizadas, a responsabilidade final pelo que ocorre nos centros de saúde municipais é da prefeitura. O problema parece ser o de que seringas não fazem marketing.
O prefeito Paulo Maluf, que gosta de aparecer como o campeão da saúde pública, é capaz de baixar um decreto que proscreve o fumo dos bares e restaurantes da cidade. Pouco importa que o decreto seja ilegal venha a ser derrubado na Justiça, desde que Maluf consiga garantir um bom espaço na mídia.
Já manter os pronto-socorros como deveria, parecia calcular Maluf, não é notícia e, portanto, não deveria fazer parte de suas prioridades. Maluf descobriu da pior maneira possível que quando os centros de saúde não funcionam eles se tornam notícia, mas negativa.

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