São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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Temperatura mínima

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO — Primeiro, foi a Globo. Depois, o SBT e, por fim, a Bandeirantes. Uma atrás da outra, as três grandes redes foram tirando do ar o presidente da República, justamente em sua primeira entrevista coletiva.
É provável que razões de programação expliquem o corte. Mas ficou a sensação de que Globo, SBT e Bandeirantes foram se desligando de FHC porque a entrevista estava de uma chatice única.
Parte do tédio é fácil de explicar: o primeiro pacote de reformas constitucionais (pretexto da coletiva) é ao mesmo tempo arquiconhecido e o menos polêmico de todos os que virão.
Mas é uma explicação apenas parcial. Afinal, FHC, enquanto senador, era uma das personalidades mais interessantes de se ouvir no Congresso Nacional. Talvez porque misturasse a dose certa de informação, opinião e ironias. Talvez porque, com os governos que o país tem tido, conversar com um oposicionista fosse sempre mais divertido.
Já o FHC presidente parece amarrado, contido. Nenhuma das gracinhas e "boutades" que tentou fazer tiveram realmente alguma graça. Seu amigo Sérgio Motta, hoje ministro das Comunicações, jura que FHC é capaz até de perder uma eleição, mas não perde a chance de fazer uma piada a respeito de algum político mesmo que tal político possa ajudá-lo a ganhar a eleição.
Ontem, teve chance de devolver na mesma moeda as ironias de ACM, mas perdeu-se no nhenhenhém que ele mesmo critica.
FHC só se solta um pouco quando fala de assuntos internacionais. Mas, infelizmente, é uma temática que continua muito distante do cotidiano das pessoas. No mais, fica na defensiva, retrancado.
É claro que há, aí, também o reflexo de uma mudança, já apontada inúmeras vezes neste espaço: o país se habituara ao espetáculo e esse governo não dá espetáculo, o que não é necessariamente ruim.
O problema é que, entre o espetáculo e o tédio, há um bom espaço a preencher, o que a entrevista de ontem definitivamente não conseguiu.

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