São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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O que você faria?

GILBERTO DIMENSTEIN

Erramos: 19/02/95
Por um erro de digitação, saiu publicado nesta coluna, que R$ 8.000 equivalem a 144 salários mínimos. O número correto é 114 salários mínimos.
BRASÍLIA — Indagado ontem pela Folha sobre como faria para viver com um salário mínimo de R$ 70,00, o presidente Fernando Henrique Cardoso reagiu irritado. Classificou a pergunta de demagógica e devolveu ao repórter: "O que você faria?" Ele perdeu uma ótima oportunidade.
Em vez de se irritar com uma pergunta, ele deveria enfatizar uma proposta em estudo por seus assessores de reduzir os impostos na cesta básica. A idéia lançada pelo ministro José Eduardo Andrade Vieira recebeu o sinal verde do presidente: sua viabilização está, agora, nas mãos da área econômica.
Além de garantir a estabilidade de preços, a melhor forma de subir o poder aquisitivo da população é reduzir o preço dos alimentos básicos. A proposta é inviável? Tem muito mais sentido —aliás, muitíssimo— do que reduzir impostos do "carro popular".
Popular merece, aqui, aspas por um motivo óbvio: custa quase R$ 8 mil. Um indivíduo que ganhe os R$ 70,00 (boa parte da população brasileira) precisaria 144 meses para comprar o tal carrinho "popular" — ou seja, quase dez anos. Mas teria de fazer um pequeno sacrifício: não poderia comer, pagar aluguel, comprar roupa, remédio. Enfim, nada.
Se subsidiaram a classe média desesperada por um carro novo, atendendo ao lobby de operários protegidos por sindicatos fortes e da indústria automobilística, por que, afinal, não se tira o imposto de alimentos como o feijão ou arroz? O problema: pobre é a única categoria que não tem lobby.

PS- Para responder a mesma pergunta feita pelo repórter da Folha, a jornalista Arcelina Helena Dias, do "Jornal do Diap", resolveu mudar de identidade em dezembro do ano passado. E viveu apenas com um salário mínimo. Arrumou um emprego na periferia de Belo Horizonte. Perdeu três quilos em um único mês. Seu relato: "Os heróis que conseguem essa proeza (viver com o mínimo) são de uma criatividade que deixaria boquiaberto qualquer artista".

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