São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995 |
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Defasagem cambial faz salário de brasileiro crescer em dólar Pelo menos seis motivos explicam distorções de preços FERNANDO CANZIAN
Conheça alguns dos motivos: 1) Câmbio: no mínimo, o real está sobrevalorizado 16% frente ao dólar. Um produto que custa R$ 10,00 vale US$ 11,90. Por isso, um turista brasileiro no exterior tem a sensação de que seu dinheiro vale mais quando convertido em dólares. Alguns economistas sustentam que esta supervalorização do real é maior. Isto por que os preços já subiram 24% desde a implantação do real. Boa parte desta inflação virou reajuste salarial, que tornou mais baratos para os brasileiros produtos vendidos em dólar no exterior. Exemplo: um empregado que ganhava R$ 1.000,00 há sete meses pode estar ganhando agora R$ 1.240,00. A grosso modo, seu salário em dólar subiu de US$ 1.190,48 para US$ 1.476,19. Em reais, no entanto, está ganhando a mesma coisa. 2) Impostos: o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. É o dobro, por exemplo, da dos Estados Unidos em alguns setores, segundo a Ernst & Young, Sotec. No segmento de automóveis, chega a 40% do preço final. No de eletrodomésticos, a 30%. Os impostos no Brasil também são cumulativos. Quando uma usina vende aço para a indústria de autopeças Metal Leve, por exemplo, paga 2,65% de imposto sobre a venda (2% de Cofins e 0,65% de PIS). Quando a Metal Leve vende a autopeça para a Fiat também paga os 2,65%. O mesmo faz a Fiat e as revendas. Conclusão: quanto mais longa a cadeia de produção de um produto —geralmente os mais elaborados—, maior seu preço final no Brasil. 3) Custo Brasil: além dos impostos elevados, a economia brasileira tem outras fontes de "encarecimento" de produtos. Estradas péssimas e portos ineficientes representam fretes mais caros; salário baixo produz poucos consumidores e não permite ganhos na escala de produção; a eficiência das empresas é baixa; os juros estão entre os maiores do mundo, encarecendo novos investimentos; e as margens de lucro são muito altas. 4) Salários: poucos assalariados ganham bem. Logo, existem poucos consumidores de produtos industrializados. Isto faz com que as empresas produzam o suficiente para atender a estes privilegiados. 5) Escala de produção e margens de lucro: do ponto de vista empresarial, de nada adianta o país ter 150 milhões de habitantes quando menos de um terço são consumidores. Isto afeta decisões de investimento para produzir mais (para quem?) e faz com que muitas empresas conservem gordas margens de lucro. As margens são altas para que a empresa mantenha sua lucratividade vendendo para poucos. A saída das empresas tem sido aumentar a agilidade na produção. Isso significa fabricar mais produtos a um custo menor. Segundo o IBGE, a indústria aumentou sua produtividade em 18% em 1993 e deve ter repetido a taxa no ano passado. A pressão por mais produtividade veio, basicamente, do exterior. Com os importados, o consumidor ganhou opções mais baratas e as empresas nacionais deixaram de ter reservas de mercado. 6) Inflação: o Brasil conviveu anos a fio com taxas elevadas. No meio empresarial, inflação alta é sinônimo de insegurança. Por isso, as empresas mantinham margens de lucro altas para se resguardarem nos contratempos —como um plano que congelasse os preços. Além disso, a inflação descontrolada acabou com a estrutura de preços relativos da economia, criando situações onde um pacote de ração para cães chega a custar mais que um quilo de carne de primeira. (FCz) Texto Anterior: Economistas culpam as margens de lucro Próximo Texto: Qualidade total requer prevenção contra erros Índice |
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