São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Muro de Berlim durou 28 anos

SILVIA BITTENCOURT
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

Pouco antes das 19h do dia 9 de novembro de 1989, um membro do Politburo da Alemanha Oriental divulgava em Berlim uma notícia-bomba: a partir daquele momento, estavam abertas todas as fronteiras do país, inclusive a que dividia a cidade de Berlim.
Horas depois, milhares de alemães-orientais e ocidentais se abraçavam no Portão de Brandemburgo, centro de Berlim.
Começava ali a cair o muro que por 28 anos simbolizou a divisão da Alemanha. Estava sendo dado o primeiro passo para a reunificação.
O mundo já conhecia a política de abertura promovida pelo então líder soviético, Mikhail Gorbatchov. Também assistia naquele ano às manifestações por democracia no Leste Europeu, à ocupação de embaixadas de países ocidentais na Hungria, que acabava de abrir suas fronteiras com a Áustria.
A notícia da queda do muro pegou de surpresa os próprios políticos alemães: mesmo o chanceler federal da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl, estava fora do país.
O muro de Berlim foi erguido em agosto de 1961, em plena guerra fria, o conflito político-ideológico entre o Leste socialista e o Ocidente.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial (1945), a Alemanha estava ocupada pelas tropas aliadas e dividida: a República Federal da Alemanha (RFA), do lado ocidental, sob a influência norte-americana; a República Democrática Alemã (RDA), do lado oriental, sob a esfera soviética.
Berlim, a antiga capital alemã, estava da mesma forma ocupada e dividida. Berlim Oriental tornou-se a capital da socialista RDA e Berlim Ocidental, ligada à RFA, uma "ilha" em território alemão-oriental.
Com o dinheiro vindo dos EUA, a Alemanha Ocidental e sua "metade" de Berlim cresceram rapidamente, logo oferecendo à população um nível de vida mais alto do que na Alemanha Oriental.
Esse fato levou ao aumento da fuga de alemães-orientais para o lado ocidental. Em julho de 1961, o número de fugitivos chegou a 10 mil por semana.
Moscou e Berlim Oriental decidiram, então, pôr em prática um plano provavelmente elaborado há tempos: a construção de um muro de concreto que impedisse a fuga para Berlim Ocidental.
No dia 13 de agosto de 1961, tropas militares trancaram os pontos de travessia para Berlim Ocidental. Dias depois, centenas de trabalhadores alemães ocidentais (fiscalizados por soldados russos) começaram a levantar o muro.
Nos seus 165 quilômetros de extensão, o muro de Berlim tornou-se, do lado ocidental, um painel de grafites pedindo paz. Do lado oriental, ele era acompanhado de uma faixa minada e guaritas.
Pelo menos 244 pessoas, entre 1961 e 1989, morreram tentando pular o muro. Hoje, quase seis anos depois da reunificação, apenas alguns pedaços de muro sobraram para lembrar a divisão.

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