São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Árabe rejeita cerca com Israel

ROBERT MAHONEY
DA REUTER EM BARTAA, CISJORDÂNIA

Quando Sabri Kabaha ouviu falar que o governo do premiê israelense, Yitzhak Rabin, queria erguer uma cerca para afastar palestinos como ele dos israelenses, ele deu risada.
Seu parente Mahmoud Kabaha também riu. Mahmoud é cidadão israelense e vive a algumas centenas de metros de distância, do outro lado da fronteira não-marcada que divide esta aldeia entre Israel e a Cisjordânia ocupada.
A idéia de que a redivisão de sua aldeia possa impedir a ação de terroristas islâmicos suicidas interessados em destruir Israel lhe pareceu ridícula.
Bartaa ocupa a linha divisória entre Israel e o mundo árabe desde a fundação do Estado judaico, em 1948.
Rabin não pode nos separar, portanto é impossível implementar essa idéia, na prática. Ou será que ele é capaz de dividir montanhas? perguntou Sabri.
Interessa a Israel ter fluxo de trabalhadores, diz seu irmão Khaled. Os israelenses não podem fazer o trabalho que fazemos.
Os atentados suicidas islâmicos abalaram a confiança israelense na paz com a OLP, levando Rabin a fechar as fronteiras com a Cisjordânia e com a faixa de Gaza.
Mas, ao fazê-lo, ele prejudica a agricultura e a construção civil israelenses e corre o risco de transformar os territórios ocupados em uma panela de pressão de descontentamento e desemprego.
O fechamento da fronteira agravou o abismo econômico entre a metade oriental palestina de Bartaa e sua metade ocidental, israelense.
No lado israelense, os residentes têm carteiras de identidade israelenses —passaportes para um emprego, um padrão de vida israelense e o mundo externo.
Eles passam livremente pelos postos de fronteira do Exército israelense, enquanto seus vizinhos do lado oriental são rechaçados.
A separação é uma idéia louca, disse Mahmoud. Vai criar problemas de segurança para os israelenses, vai provocar pobreza.
Prevendo esse argumento, políticos israelenses de esquerda, como o ministro do Meio Ambiente, Yossi Sarid, propuseram que se gaste US$ 330 milhões por ano para manter os palestinos quietos atrás de suas cercas. Outros ministros falaram em cercar apenas os trechos de alto risco da fronteira e os assentamentos judeus.
Mas se fosse erguida uma cerca, o que faria o povo de Bartaa? Mahmoud e seu irmão Ahmed relutam em abrir mão de seus passaportes, seus benefícios sociais e médicos e os empregos que acompanham a cidadania israelense, coisa que aconteceria se a aldeia fosse incorporada a uma Cisjordânia governada pela OLP.
É melhor continuar como estamos desde 1967, disse Sabri. Bartaa é um bom exemplo de como o povo palestino foi dividido. Se esse pequeno problema pudesse ser resolvido, o problema inteiro poderia ser resolvido também.

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