São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 1995
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Balladur cai e Chirac se sai melhor no 2º turno

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Enquanto duas novas pesquisas confirmavam sua queda a dois meses da eleição presidencial, o primeiro-ministro francês, Edouard Balladur, assegurou ontem que o escândalo de grampos telefônicos que atinge seu governo não tem "nada a ver com Watergate".
Desabou a vantagem do premiê, que liderava tranquilamente desde que, em dezembro, Jacques Delors anunciara que não seria candidato. A eleição francesa promete ser a mais equilibrada da história.
Sondagem do instituto BVA traz Lionel Jospin (Partido Socialista) na frente (22%) e Balladur empatado com o colega de partido e rival, Jacques Chirac (21%).
Outra pesquisa, do instituto Louis Harris, ratifica a queda do premiê, embora ele ainda apareça em primeiro (23,5%), seguido por Jospin (23%) e Chirac (17%).
No segundo turno, tanto Balladur quanto Chirac derrotariam Jospin. Mas a pesquisa BVA aponta empate entre Chirac e Balladur, caso a decisão fique entre os dois.
As duas pesquisas foram realizadas antes que o escândalo dos grampos estourasse (leia texto nesta página), o que faz prever novos problemas para o premiê.
Em entrevista à rádio France-Inter, ontem, Balladur tentou desviar a atenção para outro caso de grampos, que envolve o gabinete do presidente François Mitterrand.
No início dos anos 80, o grupo antiterrorista da Presidência grampeou os telefones de políticos, jornalistas e até artistas.
Na semana passada, foram descobertos disquetes com a lista de pessoas atingidas por essas escutas. Para Balladur, esse caso é muito mais grave.
O premiê também defendeu o ministro do Interior, Charles Pasqua, acusado de responsabilidade pela manobra ilegal. " É um ótimo ministro e, enquanto ministro, tem minha confiança".
O " enquanto ministro" foi interpretado pela imprensa francesa como uma ameaça a Pasqua, cotado como possível primeiro-ministro caso Balladur seja eleito.
Em um discurso em Marselha, na segunda-feira, Pasqua insinuou que aliados de Jacques Chirac estariam insuflando a imprensa a dar destaque ao escândalo.
" O dirigente de um partido não tem o direito de atacar seus próprios amigos", disse Pasqua. Chirac é o fundador da RPR (Reunião pela República), à qual Balladur e Pasqua também pertencem.
"Não quero polemizar com ninguém", limitou-se a responder Chirac. Os demais candidatos pediram a investigação da responsabilidade do governo.
Lionel Jospin disse que todos os casos de grampo, envolvendo a Presidência e o primeiro-ministro, devem ser investigados. A ecologista Dominique Voynet pediu a demissão do ministro. "Pasqua é o próximo fusível a queimar. O seguinte será Balladur".

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