São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 1995
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A crise continua

A formalização do empréstimo de US$ 20 bilhões dos EUA para o México, ontem, veio consolidar o alívio para investidores e para mercados financeiros na América Latina. Ainda assim, os termos do acordo e seus desdobramentos reafirmam que a crise, embora atenuada, está longe de debelada e vai gerar efeitos negativos por muito tempo.
O empréstimo norte-americano (que se somará a cerca de US$ 30 bilhões de organismos multilaterais) vai ser escalonado nos próximos meses. Será condicionado a uma política fiscal e monetária austera e à garantia das receitas mexicanas com exportação de petróleo.
A mudança na política econômica mexicana já se fez sentir. Os juros internos subiram para quase 50% anuais e o governo se comprometeu a cortar os gastos públicos.
Tais medidas mostram claramente que o desequilíbrio nas contas externas acaba por atingir direta e perversamente a população. Ambas apontam para uma recessão. Acrescente-se a isso a disparada da inflação (3,8% em janeiro, quando a previsão pré-crise era de 4,5% para todo o ano) e tem-se o espectro inquietante da estagflação.
O acordo tem também um forte significado político. O petróleo ainda é considerado um símbolo da soberania daquele país, tanto que o recente ímpeto privatizante deixou intacta a poderosa Pemex. Note-se que também o Brasil reluta em tocar na Petrobrás, ao contrário da Argentina, que rompeu velhos dogmas e vendeu a YPF.
Que o governo mexicano tenha aceito oferecer petróleo em garantia, além da monitoração econômica, não dá só uma medida do seu desespero. Cria também um constrangimento que pode agravar a situação política do país, já às voltas com uma guerrilha armada e um titubeante processo de reforma da sua arcaica estrutura institucional.
De todo modo, mesmo com o empréstimo há um efeito da crise que continua como antes. O fluxo de investimentos de curto prazo e de capital especulativo para o México, para o Brasil e toda a América Latina, esse, para o bem ou para o mal, não volta tão cedo.

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