São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 1995
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Chanceler é convocado para explicar suposto 'caixa dois'

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, deverá explicar as acusações de desvio de dinheiro público e uso de "caixa dois" nas embaixadas e consulados brasileiros à Comissão de Relações Exteriores do Senado.
A data da convocação de Lampreia será definida após o Carnaval, segundo o presidente da comissão, senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
O plenário do Senado suspendeu anteontem a análise da indicação de quatro embaixadores para postos no exterior que já haviam sido aprovados pela Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Entre os quatro embaixadores, está Affonso Celso de Ouro Preto, indicado para a embaixada do Brasil na Áustria. O diplomata Mauro Costa Couto, que representava o Brasil no Panamá, levantou suspeitas de irregularidades na gestão de Ouro Preto no posto brasileiro em Estocolmo (Suécia).
Costa Couto foi afastado de seu posto pelo presidente Fernando Henrique Cardoso há duas semanas. Ele é acusado, em inquérito administrativo do Itamaraty, de ter desviado US$ 1milhão (R$ 850 mil) da embaixada do Brasil em Bagdá (Iraque).
Além desse diplomata, também é acusado no inquérito o conselheiro René Loncan, atualmente em La Paz (Bolívia). Ambos são acusados de ter usado o câmbio paralelo em Bagdá, onde um dólar vale até dez vezes mais.
A diferença da operação iria para as contas pessoais de Costa Couto e Loncan na Suíça, segundo o inquérito. Um diplomata que trabalhou em Bagdá durante a gestão de Costa Couto contou que o desvio pode ser maior, mas muitos documentos não foram contabilizados porque estavam apagados.
Em requerimento enviado ao Itamaraty, Costa Couto disse que o desvio de dinheiro, através de "caixa dois" alimentado com operações irregulares de câmbio (uso do mercado paralelo), é rotineiro em diversas embaixadas.
No Itamaraty, os diplomatas afirmam que estas operações são admitidas informalmente, pois o câmbio em determinados países é muito desfavorável. Mas a irregularidade só é aceita quando o resultado fica com a embaixada.
Costa Couto e Loncan, no entanto, são acusados de ter trocado o dinheiro no câmbio paralelo para alimentar suas contas particulares na Suíça.
O Itamaraty continua investigando o caso. Caberá ao secretário-geral do ministério, Sebastião do Rego Barros, a decisão final sobre o caso.

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