São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 1995
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Herrmann era o músico que sabia demais

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Quem sempre acreditou que sem a música de Bernard Herrmann os filmes de Hitchcock não teriam o mesmo impacto vai adorar o documentário "Bernard Herrmann - Música para o Cinema", que o Multishow exibe à meia-noite de hoje.
Um de seus entrevistados, o montador Paul Hirsch, resolveu assistir "Psicose" sem a trilha musical. Ele nos mostra o resultado. Não é a mesma coisa, mesmo. Outra evidência: a cena em que o espião soviético tenta matar Paul Newman em "Cortina Rasgada", inteiramente sem música. Com os cortantes acordes que Herrmann havia composto por ela —e Hitchcock se recusara a usar—, o negócio muda inteiramente de figura.
Além dessas duas preciosas provas dos noves, o documentário de Joshua Waletzky, produzido em 1992 pelas televisões inglesa (Channel Four) e francesa (La Sept), apresenta uma dúzia de depoimentos sobre a arte, a carreira e a personalidade do genial autor de trilhas sonoras lançado por Orson Welles, em "Cidadão Kane", mais duas entrevistas com o maestro e flagrantes inéditos de sua vida doméstica.
Entre os depoentes, a primeira mulher do compositor (Lucille Fletcher), quatro músicos que tocaram com ele, os compositores David Raksin e Ernest Bernstein, o técnico (James G. Stewart) que mixou a trilha de "Cidadão Kane" e os cineastas Claude Chabrol e Martin Scorsese (para quem Herrmann, morto em 1975, com 64 anos, escreveu sua última partitura, "Taxi Driver").
Raksin, o célebre autor de "Laura", enaltece a "maravilhosa sonoridade" das composições de Herrmann e a revolução que ele provocou "na relação da música com os elementos visuais" de um filme. Bernstein explica no teclado de um piano o estilo Herrmann de nos gelar a espinha. Mas quem melhor se sai, em matéria de aula, é o professor de cinema Royal S. Brown. Suas explicações sobre a tonalidade e certos pormenores da música de Herrmann são um primor de acuidade e didatismo. Com a ajuda de um piano, ele repassa algumas passagens dos thrillers de Hitchcock e dá-se até ao luxo de mostrar como ficaria a abertura da "Quinta Sinfonia" de Beethoven com as terças em séries paralelas tão caras a Herrmann.

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