São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 1995
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Carnaval

Nestes próximos quatro dias, os brasileiros terão a chance de divertir-se um pouco, de esquecer a pesada e massacrante rotina diária.
E não há nada de errado em divertir-se. Há quem veja na capacidade de divertir-se ao longo de toda a sua vida um dos traços que distinguem homens de animais. O exercício de atividade lúdicas no Carnaval nada mais é do que o exercício da própria humanidade.
Infelizmente, porém, outras características humanas como a imprevidência, o sentimento de onipotência e a ignorância acabam, muitas vezes, pondo um terrível fim a essa humanidade que se pretendia com toda a razão exercer.
É com um misto de lástima e perplexidade que se vislumbra quantas pessoas perderão a vida nestes próximos quatro dias que deveriam ser dedicados apenas à diversão.
Alguns deixarão de existir de forma repentina num acidente automobilístico. Essa possibilidade se encontra agora bastante majorada em função dos estragos causados pelas chuvas em diversas rodovias de diversos Estados. Outros experimentarão uma morte lenta, agonizante, depois de contaminar-se com vírus HIV, causador da Aids.
O pior em tudo isso é que muitas dessas mortes seriam evitadas se todos seguissem dois conselhos extremamente simples: quando beber, não dirija; use camisinha.
Entregar-se vez por outra a celebrações etílicas não é crime. Já entrar bêbado num carro e sair dirigindo é crime, e grave. Além de colocar em perigo a própria vida e dos que acompanham é também uma ameaça à vida de terceiros que não escolheram correr este risco.
Já o sexo é uma atividade muito importante para a saúde física e mental das pessoas. Mas, desde o surgimento da Aids, no início dos anos 80, fazer sexo sem proteção é como mergulhar numa piscina repleta de tubarões. De qualquer forma, é possível manter a vida sexual ativa usando as camisinhas, uma proteção bastante segura —aliás a única— contra o vírus.
Não é necessário transformar-se num monge para sobreviver ao Carnaval. Divertir-se é humano e é bom. Mas é preciso permanecer no reino dos homens. Não dirija bêbado; use camisinha.

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