São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 1995
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Os noviços rebeldes

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO — Não conheço um só dos "noviços rebeldes", os deputados de primeiro mandato insatisfeitos com o funcionamento do Congresso, conforme reportagem da Folha de ontem.
Mas, assim mesmo, desconfio que se tem aí uma boa oportunidade de chacoalhar o Legislativo.
O que acontece normalmente é o seguinte: a cada uma das eleições mais recentes, os candidatos, exceto os cínicos irrecuperáveis, se assustam ante a rejeição do eleitorado à categoria como um todo.
Mas, passada a eleição, quem se elege costuma acomodar-se e passa a achar que a rejeição era apenas aos que foram barrados nas urnas.
Os poucos que continuam assustados e os novatos cheios de boas intenções acabam, com o tempo, engolidos pela máquina de moer vontades que é o Congresso. E os velhos vícios permanecem intocados.
Prova recentíssima: a iniciativa da Mesa do Senado de propor a compra de novos carros. Pode até ser que o Senado necessite com a maior urgência de novos veículos. Mas a idéia de adquiri-los revela imperdoável falta de sintonia com o sentimento das ruas, que é o de achar que o Congresso já tem mordomias demais, o que, de resto, não está longe da verdade.
É por isso que não se pode deixar morrer a rebeldia incipiente de um grupo de novatos. Mas, para que ela prospere e gere consequência, é preciso que a sociedade e a mídia interfiram diretamente, porque é pura ilusão acreditar numa autopurificação do Congresso.
O normal, no que se refere à mídia, é desprezar esse tipo de parlamentar. A primeira reação dos jornalistas é perguntarmos "Herculano quem?", para citar apenas um dos noviços rebeldes, Herculano Anghinetti (PSDB-MG). Se fosse um Genoino, um Delfim, um Rigotto, seria mais fácil.
O problema é que os nomes conhecidos, por mais boa vontade que possam ter tido, não conseguiram até agora transformar o Congresso numa Casa respeitada pela opinião pública. Se os anônimos anghinettis, siqueiras e elviras o fizerem, melhor para eles, mas também para o próprio Congresso.

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