São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 1995
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Governo suspeita da CIA

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — O presidente Fernando Henrique Cardoso suspeita que o Brasil virou vítima de uma jogada da CIA. E o instrumento do lance seria, por consequência, o prestigioso "The New York Times".
Em contato ontem com esta coluna, o chefe da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), embaixador Ronaldo Sardenberg, reforça a suspeita. Alega que a CIA persegue valorização depois do fim da Guerra Fria. E, daí, teria produzido a lenda de que teria influído na vitória de uma empresa americana na concorrência de equipamento para o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Fontes da CIA, segundo "The New York Times", alegam que a empresa francesa iria subornar funcionários brasileiros —e, graças a essa descoberta, os americanos não perderam a concorrência. "Eles estão sem ter o que fazer e ficam inventando conquistas", disse ontem Mário Cesar Flores, ex-chefe da SAE.
Segundo Mário Cesar Flores, a empresa americana venceu porque seu preço era mais baixo e suas condições técnicas, melhores. "O resto é bobagem", acrescentou.
Cauteloso, Sardenberg não descarta a eventualidade de alguma delinquência. Mas pondera: "A matéria não diz quem tentou subornar e quem foi vítima da tentativa de suborno. Portanto, é um denúncia vaga". Disse que, se lhe oferecerem algo menos vago, vai tomar providências —afinal, o Sivam vai ser mantido com as verbas da SAE.
De fato, não é prudente descartar qualquer deslize quando se trata de uma concorrência de U$ 1,6 bilhão, envolvendo empresas de dois gigantes como Estados Unidos e França.

PS — Não me chamo Caetano Veloso nem Fernando Henrique Cardoso, mas também tenho uma reclamação ao "The New York Times". O jornal fez uma reportagem sobre a portaria limitando a propaganda de fumo no Brasil. E, para minha surpresa, sou listado como adversário da restrição e a favor do cigarro —isso depois de ter escrito várias e duras colunas contra a indústria do fumo. Motivo: não entenderam uma ironia. Numa das colunas, diante dos argumentos da indústria de que o fumo gera emprego e impostos, brinquei. Comentei que estava comovido e, para ajudar o Brasil, pensava até em voltar a fumar.

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