São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Insegurança volta a rondar escolas públicas

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A dispensa de 4.330 seguranças de escola, sem que uma alternativa tenha sido efetivada pelo governo até o momento, já causou incidente em pelo menos uma escola da rede estadual.
Os guardas, contratados pelo Baneser, deixaram de trabalhar em todas os colégios da rede na última quinta-feira, quando se encerrou o aviso prévio.
Na noite do mesmo dia, ex-alunos embriagados ocuparam o pátio externo da Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Paulino Nunes Esposo, em Parelheiros (periferia sul de São Paulo) e quase atrapalharam as aulas.
"As funcionárias tiveram trabalho para retirar o pessoal. Eles devem ter ido ao supermercado aqui do lado e comprado bebidas. Eles entraram no pátio do estacionamento. Tiramos eles. Depois, ficaram lá fora 'consumindo outras coisas"', contou sexta-feira à noite Eny Leal Viana, 26, vice-diretora da escola, que tem hoje 1.885 alunos.
O incidente é leve, mas preocupante para as mães, que antecipadamente já tinham feito abaixo-assinado com cerca de 500 assinaturas, em que pediam a manutenção do serviço de segurança escolar. A escola era vigiada por dois guardas —um de dia e outro à noite.
A diretora, Maria Rodrigues Ferraz de Oliveira, 42, que ocupa o cargo há 17 anos, admite que inicialmente resistiu ao programa de segurança escolar implantado pelo antigo governo.
"No início, achei que os seguranças iam se tornar mais um problema. Mas aqui deu certo. Sem eles, a barra vai ficar pesada", já afirmou ela.
Maria Rodrigues disse, porém, que em sua escola havia furto de carros de professores estacionados no pátio externo e pessoas estranhas invadiam a escola, antes do programa ser posto prática.
"Os guardas vigiavam os portões, os mantinha fechados e só abria para alunos atrasados e pais. Faziam uma triagem na entrada, evitando que amigos de alunos e estranhos e bêbados ficassem berrando junto às janelas, prejudicando as aulas", declarou ela.
A estudante Gislene Ribas Campos, 11, que estuda na 6ª série, concorda com a diretora. "Acho importante ter o guarda. Lá em cima é perigoso atravessar a rua, e aqui o guarda ajudava a gente", disse a garota. A escola fica na movimentada avenida Senador Teotônio Vilela, nº 7.001.
Segundo o inspetor de segurança da 20ª Delegacia de Ensino, Jeferson Mutti, 44, os bairros de Grajaú e Paralheiros (onde está o colégio) estão em uma região "brava", com altos índices de violência.
A Secretaria da Educação pretende recontratar os seguranças através das associações de pais e mestres (APMs). O prazo de reimplantação do programa, a custos menores, ainda não está definido.
O governo afirma também que está "reavaliando" o programa "Escola é Vida", de prevenção à Aids e às drogas nas escolas, assim como o trabalho (suspenso) de treinamento de professores da rede, que era feito pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE).
A mãe Maria Ferreira, 39, espera mesmo que o governo reavalie tudo logo. Ela tem dois filhos —João, 15, e Susan, 15— na escola de Parelheiros.
"Agora os dois passaram a estudar à noite e estou mais preocupada, porque no ano passado, mesmo com segurança, meu filho teve um boné roubado na saída e ainda bateram nele", disse.
(GA)

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