São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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O horizonte ainda é de taxa de juros alta

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

Rente ao IPC-R de 0,99% de fevereiro, o CDI-Over, com ganho acumulado de 3,23%, pagou juro real de 2,2%, o equivalente, em termos anuais, a 29,9%. Por enquanto, a expectativa do mercado é de que juro real tão expressivo não irá se repetir em março. Para um IPC-R estimado por Dinheiro Vivo de 1,35%, o CDI teria de pagar 3,59% efetivos. Mas o pregão de DI futuro da BM&F não espera ganho maior do que 3,40%. Seria preciso uma de duas circunstâncias para a preservação do juro real no platô de 30% ao ano: ou a inflação desistiria da trajetória ascendente imaginada pelo mercado ou o over-selic traçaria rota de alta ao longo do mês.
Parte do mercado acredita na segunda hipótese. Por dois motivos: 1) O suposto pacote anticonsumo baixado na quarta-feira não será capaz de inverter o rumo da inflação; 2) Será natural ao over subir nominalmente durante o transcorrer de março, um mês longo de 23 dias úteis, pois a transição para abril (um mês com apenas 17 úteis) exigirá taxa nominal maior.
Trabalhe, portanto, com a perspectiva de elevação dos juros no mês. O governo já deixou claro que as decisões de política econômica são tomadas em função das contas externas. A prioridade é a obtenção e sustentação de superávits comerciais e preservação das reservas cambiais. E o juro desempenha papel fundamental no alcance deste alvo. Tudo isso para que o Brasil não siga a trilha mexicana. A prioridade é a obtenção de saldos na balança comercial e a preservação do nível das reservas cambiais. E nada será feito capaz de prejudicar a Argentina. Um processo atabalhoado de rápida correção da megavalorização do real precipitaria a Argentina no caos. E o Brasil, depois.
Por isso a providência do CMN —redução do prazo do consórcio e proibição do leasing— tem por objetivo real o de evitar o desabastecimento interno decorrente da elevação das alíquotas de importação. Ou seja, trata-se apenas de medida compensatória, secundária, à outra, esta sim fundamental, voltada ao comércio exterior. O que os bancos mais temiam (ampliação dos compulsórios bancários, contingenciamento de operações ativas e cerco à emissão de debêntures) ficou de fora. O nó é cambial, e o problema sério é externo. Por isso, a dívida pública interna pode ficar em segundo plano. Diretamente, as medidas não têm impacto sobre os juros. Mas podem ser mantidos em platô elevado.
Os juros nominais dos papéis prefixados vão subir em março, porque este mês tem 23 dias úteis contra 17 de abril. A taxa por dia útil passará de 0,145% para 0,201%, conforme o DI futuro, o que vai pesar na formação dos juros dos CDB pré. Quanto mais dentro de abril ocorrer o vencimento da aplicação, maior será a taxa prometida. Além desta questão, a expectativa é de que a inflação de abril seja maior. Travar a taxa no pré fica muito arriscado.

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