São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Teste faz detecção precoce de câncer no esôfago

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Especialistas nos Estados Unidos e em algumas partes da Europa mostram-se alarmados com o grande aumento da frequência do adenocarcinoma do esôfago, tumor que se localiza especialmente na região limítrofe entre este órgão e o estômago.
Sua incidência triplicou nos últimos 15 anos. É hoje o tumor cuja frequência cresceu com maior intensidade. Além disso, ele é muito agressivo, matando dois terços de suas vítimas em um ano e mais de 90% em cinco anos.
Há muita razão, pois, para a alegria despertada pela notícia de que Brian J. Reid, da Universidade de Washington, em Seattle. Ele descobriu com seus colaboradores um teste simples para identificar o tumor precocemente, até mesmo quando ele se encontra ainda em fase pré-cancerosa.
A identificação e o tratamento precoces permitirão que os pacientes tenham sobrevida de cinco anos ou mais.
O adenocarcinoma do esôfago ataca especialmente homens de meia idade ou mais idosos. Ele começa por uma azia muito incômoda e crônica, causada pelo regurgitamento do conteúdo gástrico.
Em 70% dos pacientes que desenvolvem esse tipo de azia, forma-se o chamado esôfago de Barrett, no qual as células discóides do revestimento interno são substituídas por células colunares produtoras de muito muco.
Em dez anos, em 10% dos que têm esse tipo de esôfago, esse tumor aparece, provavelmente porque a acidez provoca alteração das células, aumentando sua velocidade de divisão e tornando-as mais sensíveis à ação de agentes provocadores de mutação.
Reid estudou meticulosamente as alterações do esôfago de Barrett em cortes sucessivos e em todas as fases, desde a pré-cancerosa até a cancerosa.
Concluiu que mutação do gene p53 parece agir na formação do câncer, aliás como em muitos outros tumores malignos. Essa influência do p53 deve explicar 50% dos cânceres esofagianos.
uma das características do desenvolvimento canceroso é o aparecimento de células irregulares e em particular de células que encerram enorme quantidade de DNA extra (aneuploidia).
A aparente relevância da aneuploidia no processo levou Reid à descoberta de seu teste de diagnóstico precoce.
Ele tinge os tecidos com um corante que se torna fluorescente sob ação do laser. As regiões onde o brilho é mais intenso correspondem à maior densidade de DNA.
Já foi automatizado o processo de reconhecimento do DNA e o cálculo de sua relação com a existência de lesão cancerosa e sua extensão.
Na aplicação do teste, os pacientes que deram resultado negativo permaneceram livres do adenocarcinoma pelo menos por três anos, ao passo que os positivos o contraíram nesse prazo. Os pacientes com início de sintomas levam vantagem na cirurgia.
Mais útil que fazer o diagnóstico precoce é sem dúvida evitar o desenvolvimento do câncer. Para isso, muitos especialistas estão se dedicando à descoberta de fatores de risco.
O fumo e dietas pobres de verdura e ricas de gordura são comprovados fatores de risco. Mas nenhum desses riscos explica o violento aumento da frequência desse câncer.
Por isso, alguns cientistas estão fazendo observação sistemática baseada especialmente na dieta e em certos medicamentos muito prescritos nestes últimos tempos, especialmente os baseados nos bloqueadores de histamina para gastrite e males semelhantes e nos bloqueadores do cálcio para a hipertensão.

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