São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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S&M domina evento

CONTARDO CALLIGARIS; ELIANA CALLIGARIS
DOS ENVIADOS ESPECIAIS A COLUMBUS

O evento de Columbus foi uma iniciativa conjunta do "Eros Group" (3379 Route 46, Parsippany NJ 07054) e de "Anything for Love" (PO BOX 19305 Cincinnati Ohio 45219).
O projeto inicial era triplo. Primeiro propor uma convenção mediana: nem um evento luxuoso e caríssimo, nem uma reunião de galpão sem nenhuma organização e conforto (são esses, ao que parece os casos mais frequentes). Segundo, organizar uma convenção no meio-oeste dos EUA. Columbus é por isso um bom lugar, a metade do caminho entre Dallas e Chicago.
Terceiro, propor uma convenção que não fosse só privilegiadamente de uma comunidade, mas onde idealmente todas as orientações sexuais seriam representadas. Este último projeto não deu certo. Entrevistamos Holly Teague, responsável de "Anything for Love" e Pete Silvia, responsável do "Eros Group", artista plástico, autor, aliás, do quadro cujo detalhe faz a capa deste número de Mais!
(Contardo Calligaris e Eliana Calligaris)

Folha - O programa da convenção fala muito de estilos de vida alternativos, mais de que de orientações sexuais.
Por que uma fantasia sexual específica se tornaria um estilo de vida?
Holly — Se alguém tem uma fantasia específica, ou um reino, um domínio fantasmático, se ele quer se avançar nele, vai ser levado fora do que a sociedade julga aceitável. Seu estilo de vida, não só sua atividade sexual, vai ser diferente. É algo que as pessoas escolhem de incorporar em suas vidas e que as leva fora da sociedade normal. As pessoas precisam, neste caso, saber que não são estranhos, que dividem isto com outras pessoas.
Nesta sociedade, a sexualidade é muito reprimida e se torna muito difícil para as pessoas de viver sua fantasia. Precisa se esconder, ou então o risco é perder emprego, amigos, família. É algo que pode realmente destruir a vida de uma pessoa.
Folha - Por isso então precisa fazer existir uma comunidade.
Holly — E também para introduzir pessoas a coisas nas quais podem estar interessadas, mas que normalmente não saberiam como fazer. Precisa ensinar as condições de segurança, as precauções e transmitir experiência.
Pete — Precisa também lembrar que 25% do benefício da convenção vai à pesquisa sobre Aids. Também há uma loteria que atribuirá o quadro que está na capa do programa e todo este dinheiro irá para a "Kaleidoscope youth coalition", que é uma casa de apoio para adolescentes rejeitados de seus lares por seus pais, a causa de sua orientação sexual.
Eles aconselham os jovens, e também tentam recolocá-los em suas famílias, aconselhar os próprios pais. Estas são também tarefas da comunidade.
Folha - O projeto era fazer uma convenção prioritariamente de orientação S&M?
Holly — Não, nossa idéia era fazer algo um pouco novo, que houvesse pessoas de muitas se não todas as comunidades e os estilos de vida alternativos.
Folha - Talvez isso seja inevitável. Talvez a cena S&M seja um pouco o mínimo denominador comum, ou quanto menos uma componente de todas as orientações sexuais "alternativas".
Holly — É possível. De qualquer forma, o ano que vem já está assegurada uma forte presença de swingers, com seminários sobre swing, etc.
Também confirmou sua participação Miss Erica, que dirige uma escola de vestuário, etiqueta e comportamento para travestis e uma academia de cross-dressing aqui em Columbus.
Ela está muito interessada em fazer um seminário sobre cross-dressing. Na verdade é urgente que esta abertura aconteça, até porque a comunidade S&M, em geral hoje, é aquela que se expressa mais facilmente, que tem uma cena pública mais forte.

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