São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Pau neles

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — Um plano do Ministério da Educação vai desvendar como se perdem tempo e dinheiro nas faculdades brasileiras —desde que, óbvio, aplicado com rigor. Concluir o curso não seria mais suficiente para entrar no mercado de trabalho. O Governo quer implantar um teste final.
Em contato com esta coluna, o ministro Paulo Renato Sousa admitiu: "Vai ser uma trauma, mas necessário". Ele acha que o teste teria pelo menos três utilidades: aumentar a qualidade do ensino, evitar o desperdício de recursos públicos e privados, além de proteger a sociedade de maus profissionais.'
A operação é complexa, vai gerar muito debate e controvérsia sobre o tipo de exame a ser empregado. Mas a idéia é, em essência, boa. A verdade: a sociedade não sabe como as universidades usam seu dinheiro, se formam bons profissionais, se o nível de pesquisa e descobertas poderia ser maior e melhor.
Hoje, as universidades brasileiras aparecem mais no noticiário por causa de delinquências, mazelas e desvios do que propriamente conquistas científicas. Poucos sabem, por exemplo, mas chegou-se a desviar, no ano passado, R$ 100 milhões do FNDE, exclusivo ao ensino básico, para as universidades.
Paulo Renato avalia que o teste vai desnudar ainda mais as fragilidades —em especial, nas faculdades privadas, onde estão dois terços dos universitários brasileiros. Vai desnudar, inclusive, perigos.
O ministro Adib Jatene não esconde sua preocupação com a mão-de-obra que sai das faculdades de medicina —se for parecida com a da maioria das faculdades de jornalismo, é de provocar pânico. "Muito preocupante", comenta Jatene.
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo combate há anos a propagação de faculdades de, digamos, fundos de quintal. "É um descalabro", diz o psiquiatra Jair Mari, da Escola Paulista de Medicina.

PS — A propósito, cada vez mais fico convencido de que o corporativismo expande os tecidos necrosados da medicina. O ministro Jatene afirmou que a corrupção se dissemina nos hospitais, com a cobrança por fora dos pacientes do Sistema Único de Saúde. Reação: tirando as exceções de praxe, a reação variou entre o silêncio e a irritação com a notícia.

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