São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 1995
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Bailes do Rio não resgatam glamour

FERNANDO MOLICA CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

A intenção de resgatar o antigo glamour do Carnaval nos salões do Rio ficou perdida entre os cerca de 15 quilômetros que separam Copacabana e Barra da Tijuca.
Os dois são bairros-sede de duas gerações da sociedade carioca: a tradicional, que viveu seu auge na década de 50, e a nova, formada pelos novos-ricos.
Os bailes foram nos templos destas duas sociedades: o Copacabana Palace e o Metropolitan.
O Baile do Copa —o Magic Bal— exigia "black-tie" ou fantasia de luxo. Para o Baile Oficial da Cidade, no Metropolitan, o convite pedia fantasia de luxo ou traje branco ou preto. O que se viu no salão foi uma profusão de camisetas coloridas, bermudas e tênis.
"Acho que estamos vivendo a disputa entre a nova sociedade emergente e a velha sociedade decadente", resumiu Ricardo Amaral, dono do Metropolitan.
O balanço das festas revela uma vitória apertada da sociedade tradicional. O baile do Copa conseguiu chegar mais perto do objetivo de recuperar o charme perdido.
Isto, apesar de a nostalgia dos anos 50 ter esbarrado no pragmatismo da década de 90: até um folião vestido com o uniforme da Comlurb (empresa municipal de limpeza) conseguiu entrar.
Perto do gari de luxo estava Rogério Marques, 22, acompanhante da modelo Monique Evans. Vestia calças jeans e camisa do Fluminense e calçava um surrado par de tênis. "Legal, legal", repetia.
Lá, o espírito de baile de gala até que foi respeitado por muitos: entre as mulheres, venceu a combinação vestido longo com arranjo de penas na cabeça: traje de Adalgisa Colombo, miss Brasil 1958, e da manequim Georgia Wortman.
Acompanhada do marido, o alemão, Roland Burse, Roberta Close usou um discreto longo branco. "Biquini só para o sambódromo."
No Metropolitan, Luiza Brunet foi uma das poucas a apostar no glamour. Com um longo branco e justo em paetês, arrancou suspiros. "Chegou a sereia da festa", disse Júlio Lopes, playboy carioca.
A tentativa de reedição dos antigos bailes do teatro Municipal não animou nem o prefeito. César Maia passou a noite de sexta-feira no sambódromo, assistindo ao desfile das escolas de samba do grupo de acesso, um tipo de segunda divisão do Carnaval do Rio.
"O prefeito do Rio não veio, mas o de Atlanta (Bill Campbell) está aí", disse Amaral.
No Copacabana Palace, o glamour tinha de enfrentar um outro obstáculo. Centenas de pessoas aglomeradas à porta do hotel formavam um juri popular dos foliões que pagaram entre R$ 80,00 e R$ 180,00 para ir ao baile.
Alguns, como a bailarina Ana Botafogo vestida com um longo vermelho, eram aplaudidos.
A maioria não tinha a mesma sorte e enfrentava gritos como "Perua!". Alguns foliões ouviam frases como "se este aí entrar eu também entro".
Em meio ao bem-comportado salão do Copa, Ana Botafogo, apesar de achar difícil uma recuperação do charme dos anos 50, afirmou que o baile ajudava na volta de um "Carnaval família".
Na véspera, Amaral fazia uma avaliação semelhante de seu baile. "O brasileiro tem a idéia de que baile de Carnaval é vulgar. Isso aqui é uma semente para acabar com essa vulgaridade. As pessoas podem não estar luxuosamente vestidas, mas também não tem gente pelada", disse.
No dia seguinte, ele colaborou para quebrar o espírito do baile do Copa: vestia camisa esporte estampada, calça e sapatos brancos. "Estou fantasiado de bicheiro no Taiti." Disse que smoking não combinava com Carnaval.
Na madrugada anterior, Ana Maria Tornaghi também desdenhara a festa do adversário.
"Aqui (no Metropolitan) tem muita mistura, vem todo o pessoal da Barra...", afirmou, em uma referência aos "emergentes".

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