São Paulo, quarta-feira, 1 de março de 1995
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Conservadorismo domina desfile

AZIZ FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

Uma onda conservadora tomou conta das escolas de samba do Rio no desfile deste ano. Elas optaram por uma estética tradicional, sem ousar nos enredos e materiais, e exibiram poucas mulheres nuas.
A guinada ao tradicionalismo foi flagrada já na primeira escola a desfilar no domingo. Uma das poucas agremiações marcadas por enredos políticos e críticos, a São Clemente levou para a avenida um otimismo, que beirava a ingenuidade, sobre o futuro do país.
Nem o mais vanguardista dos carnavalescos, Renato Lage, da Mocidade Independente, ousou neste Carnaval. A expectativa era de que a escola provocasse polêmicas com o enredo sobre a história da religião no Brasil.
A Igreja Católica não teve motivos para se preocupar. Lage não usou nenhum símbolo religioso no desfile. "Não seria louco de fazer isso, até porque sou católico", disse antes do desfile.
Responsável pela popularização do néon e de materiais transparentes na avenida, Lage ousou pouco: limitou-se a colocar fogos de artifício em alguns carros alegóricos.
A Vila Isabel, que se acostumou a driblar as dificuldades financeiras com materiais alternativos como palha e tecido cru, apresentou-se com muito luxo e brilho, marca do carnavalesco conservador Max Lopes.
A Portela foi uma espécie de símbolo da tendência conservadora. Com uma nova diretoria, a escola interrompeu o ciclo de abertura aos moradores da zona sul e deu uma reviravolta para resgatar os antigos integrantes.
O resultado foi um desfile como há muito a escola de Madureira, uma das mais populares do Rio, não fazia. Seu muso eterno, Paulinho da Viola, voltou a desfilar. A modelo Luiza Brunet perdeu o posto de madrinha da bateria para a Nega Pelé, uma passista de 50 anos, patrimônio da escola.
O conservadorismo das duas escolas deu resultado.
A Vila Isabel impressionou o público, surpreendendo os que a aguardavam como um intervalo entre a Estácio e a Mocidade. A escola de Padre Miguel esbanjou simpatia e foi uma das mais aplaudidas pelo público.
A Portela, que desde 84 não ganhava um campeonato, deixou a praça da Apoteose aos gritos de "é campeã".

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