São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sangue, suor e cerveja

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — Estado mais rico do país, São Paulo se transforma em um dos pólos mundiais da barbárie. Os números oficiais divulgados ontem revelam o crescimento de 35% nos assassinatos neste Carnaval, comparando-se com o mesmo período do ano passado. Em cinco dias, 103 vítimas.
Nenhuma guerra no planeta conseguiu tal estatística na última semana —isso sem contar as 75 vítimas fatais de acidentes de trânsito.
Todos os indicadores disponíveis apontam para uma evidência: não é um fenômeno isolado. Nos últimos dez anos, a taxa de homicídios evoluiu 90,4%. Os números mostram aceleração no ritmo. Comparando-se os meses de janeiro, de 93 para cá, na Grande São Paulo, a taxa foi de 44%. É um ritmo de bola de neve.
Até uma conquista parece estar ameaçada. Em janeiro passado, a PM matou 60 pessoas em supostos tiroteios. Foram 60 casos contra uma média mensal de aproximadamente 35. Tem-se, aqui, um aumento de 76%.
Uma pesquisa realizada pelo jornal norte-americano "The Washington Post" no final de 1993 colocou Washington como a cidade mais violenta do mundo, com uma média de 400 assassinatos por ano. É menos do que o município de São Paulo em apenas janeiro passado —443 assassinatos.
A capital dos Estados Unidos continua na frente porque sua população é menor. Mas, projetando por 12 meses o registro de 443 assassinatos e dividindo-se pelo número de habitantes, São Paulo já está entre as cinco cidades mais violentas do mundo, praticamente empatada com o Rio.
Está bem na frente, por exemplo, de Nova York. É quase o dobro —lá o índice é de 29,4 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Se mantiver a média do mês passado, o município de São Paulo ostenta a taxa de 56 assassinatos para cada 100 mil habitantes.
A diferença é que nos Estados Unidos —e mesmo no Rio— existe um ambiente muito maior de mobilização da população contra a violência.

PS — Peço desculpa ao leitor. Por falta de uma frase, a coluna de ontem ofereceu uma informação errada. Um aluno de ensino básico numa escola particular em São Paulo custa ao mês R$ 95, o que corresponde a 22 alunos do ensino público no interior da Bahia, 10 de Goiás, 63 de Alagoas e 4 brasilienses.

Texto Anterior: Fantasmas ressuscitados
Próximo Texto: O presidente e o rei
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.