São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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'Desisti porque estressei'

SIMONE GALIB
DA REPORTAGEM LOCAL

Os tripulantes costumam dizer que a aviação é uma paixão, um vício difícil de abandonar. Mas nem todos conseguem manter essa paixão acesa. Mesmo aqueles que se encaixam no perfil ideal, acabam descobrindo com o tempo que a vida em terra pode ser muito melhor. Ou menos sacrificada.
Malu Fernandes, 36, abandonou a profissão há sete anos. "Quando entrei, tinha uma saúde de ferro. Desisti porque estressei", conta.
Formada em Comunicação Social, entrou por acaso aos 24 anos para o time de tripulantes de uma companhia aérea de São Paulo (ela prefere não revelar o nome).
Pleiteava o cargo de relações públicas bilíngue. Acabou convidada para ser aeromoça. Ela passou quatro anos voando. "A vida foi boa nos primeiros dois anos. Gostava do contato com os passageiros, dos hotéis, da rotina."
A vida pessoal, conta, acabou em segundo plano. Os horários eram confusos, as noites mal dormidas. Mas isso na época não era problema. "Namorei um tripulante. Coincidiámos nossas folgas, saíamos juntos, nos divertíamos."
Porém, segundo ela, com o passar do tempo a realidade da profissão lhe apontou outros caminhos. "Sentia falta de uma vida mais tranquila". Quando começou a voar, Malu também aprendeu a desfazer mitos, como o do glamour associado ao marketing da beleza —"é pura ilusão, porque a gente se desgasta, envelhece".
Aprendeu ainda a lidar com preconceitos e estereótipos. "Muita gente imagina que a vida de um tripulante é uma sucessão de romances. Mas a aviação é algo discreto e com muita disciplina."
Segundo a ex-comissária, os amores acontecem, claro. Mas sempre debaixo do pano. "A bordo e nos hotéis você está a serviço da companhia. Ninguém é demitido porque se recusa a sair com um comandante ou rebaixado por isso. Os excessos são punidos. Não existem arruaças".
(SGa)

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