São Paulo, sábado, 4 de março de 1995
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Psicólogo quer autorização para morrer

BILL SOUZA
DA FOLHA SUDESTE

O psicólogo Fernando Bressane, 35, de Campinas (99 km a noroeste de São Paulo), busca autorização judicial para se submeter a uma eutanásia.
Ele é tetraplégico e vive em uma cadeira de rodas há três anos. O psicólogo sofreu uma fratura na sétima vértebra da coluna cervical depois de cair do 3º andar de um prédio e perdeu o movimento dos membros.
A eutanásia, proibida pela legislação brasileira, visa eliminar o sofrimento de pacientes terminais, como os doentes de câncer, através da aplicação de anestésico.
O anestésico provoca uma parada cardiorrespiratória no paciente. Ele morre de três a cinco minutos depois sem sentir dores.
O médico legista Fortunato Badan Palhares, 51, responsável pelo setor de Ética Médica da FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp, disse que esse não é o caso do psicólogo.
Segundo ele, Bressane tem condições de viver mesmo sendo tetraplégico. O médico disse que o psicólogo quer facilitar sua morte.
"Não posso viver a vida plenamente numa cadeira de rodas. A morte é a única solução", disse Bressane.
O psicólogo afirmou que só não comete suicídio porque não tem movimentos nas mãos para empunhar uma arma ou outro objeto. "Se tomasse alguma coisa, minha família me socorreria em tempo."
O psicólogo afirmou que até tentou a ajuda de pessoas conhecidas para que elas o matassem, mas ninguém aceitou.
Bressane disse que o maior problema é que não consegue um advogado para defender a sua causa.
Segundo ele, quatro profissionais já recusaram a proposta por que a consideram perdida. Ele disse que pagaria qualquer quantia para obter a autorização.
O presidente da subseção Campinas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Marcos Bernadelli, 34, disse que é praticamente impossível alguém aceitar o caso.
Como a prática é proibida pelo Código de Ética Médica, Bernadelli disse que o médico que fizer eutanásia pode responder por homicídio e pegar até 20 anos de prisão.
O padre José Júlio, 63, da área de Teologia Moral da Igreja Católica em Campinas, disse que Bressane não tem direito de tirar sua vida e precisa de acompanhamento psicológico.

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