São Paulo, sábado, 4 de março de 1995
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'Eu sou uma pessoa normal'

DA FOLHA SUDESTE

O psicólogo Fernando Bressane disse que não pode usufruir os "prazeres da vida" em uma cadeira de rodas. Ele vive com a mãe, Maria Joaquina, em uma casa de classe média no bairro Taquaral, região norte de Campinas. Leia trechos da entrevista:

Folha - Desde quando o sr. pensa em eutanásia?
Fernando Bressane - Desde setembro de 92, quando fui desenganado. Na época, passei a não ter controle dos membros e das necessidades fisiológicas. Até essa data, havia chance de me recuperar do acidente, que aconteceu em março.
Folha - Como foi o acidente?
Bressane - Eu pulei do 3º andar de meu prédio, no bairro do Catete, no Rio, porque achei que tinha alguma pessoa entrando no apartamento. Dois meses antes, meu apartamento foi arrombado e revirado. Não roubaram nada. Quem fez isso queria me impressionar.
Folha - Por que fariam isso?
Bressane - Porque denunciei pessoas onde trabalhava, que consumiam cocaína e estavam envolvidos em irregularidades.
Folha - O sr. consume drogas?
Bressane - Até a época de faculdade, na Puccamp (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), eu fumei maconha. Nunca mexi com drogas pesadas.
Folha - No dia do acidente o sr. tinha usado drogas?
Bressane - Não. Mas o inquérito apurou que tive uma alucinação causada por estresse emocional.
Folha - O sr. tem problemas psiquiátricos?
Bressane - Eu sou uma pessoa normal. Minha família me internou uma vez, no hospital psiquiátrico Bierrembach de Castro (hoje desativado), em 86. Fiquei 20 dias lá. A experiência me levou a escrever um livro, não-publicado, com críticas a essas internações.
Folha - O sr. teme a morte?
Bressane - Não.
Folha - O sr. crê em Deus?
Bressane - Sim. Deus é soberano e não me mandaria para o inferno porque minha causa é nobre.
Folha - Algo o faria desistir?
Bressane - Não. Mas gostaria de publicar meus livros.

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