São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Laudo diz que ladrões não atiraram em PM

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Não havia vestígio de pólvora nas mãos de Cristiano Melo e Robert Oliveira, que morreram num confronto com a Polícia Militar, durante assalto ao shopping Rio Sul, no último sábado. A informação está nos laudos cadavéricos do Instituto Médico Legal.
Isso significa que os dois, embora armados, não dispararam contra os PMs, o que complica a versão de troca de tiros entre PMs e assaltantes e legítima defesa, alegada pela polícia para explicar a morte dos assaltantes.
O cabo Flávio Carneiro deu três tiros em Cristiano Melo, quando ele estava caído na calçada. Sua morte foi registrada por uma equipe de TV. Carneiro afirmou que Melo puxou uma arma para ele. O outro homem, Robert de Oliveira, morreu dentro da Kombi usada no assalto.
O cabo Walmir Lyra, que revistou Melo antes de ele ser baleado por Carneiro, quando ele já estava ferido, reafirmou ontem na delegacia que só encontrou com ele uma arma e não viu, na cintura do assaltante, a pistola 9 mm com a qual Carneiro diz ter sido ameaçado.
O depoimento de Lyra também fragiliza a tese de legítima defesa de Carneiro.
Lyra recolheu um revólver escondido na perna do assaltante e, em seguida, arrastou-o para trás da Kombi. Ele disse que o objetivo era permitir que um carro da PM estacionasse e socorresse Melo.
O policial disse que Melo não foi algemado porque nenhum dos PMs tinha algemas. Lyra prestou depoimento fardado. Ele continua trabalhando. Dos 12 policiais que participaram da operação, só Carneiro está preso.
A arma do crime ainda não foi identificada. A polícia técnica está examinando uma bala encontrada no cadáver de Melo, para saber de que arma partiram os tiros.
O legista Marcos Sanches, que assinou o primeiro laudo cadavérico de Cristiano Melo, foi afastado do Instituto Médico Legal.
Seu laudo indicou quatro perfurações e divergiu do do perito, que indicou seis perfurações. A exumação do cadáver confirmou o número do perito.
A direção do IML abriu uma sindicância para investigar o motivo da falha no laudo. A diferença, segundo um legista ouvido pela Folha, pode definir a reconstituição da cena da morte.

Texto Anterior: Bresser defende 'publicização' de universidade
Próximo Texto: Motoristas do Rio suspendem greve
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.