São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juros podem chegar até 935% ao ano

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

As taxas de juros do crediário devem subir de 1 ponto a 3,5 pontos percentuais a partir de metade da próxima semana por conta da subida dos juros dos títulos do governo para conter a alta do dólar.
Com isso, os juros mensais do crédito ao consumidor, que até ontem oscilavam entre 8,7% e 12,4%, podem atingir 15,9% ao mês ou 487% ao ano.
No crédito pessoal, isto é, nos empréstimos sem garantia física da mercadoria, a taxa de juros pode bater 21,5% ao mês ou 935% ao ano. Até ontem, a média do mercado para o crédito pessoal variava entre 11% e 18% ao mês.
"Se o custo da captação para as financeiras se mantiver nos níveis de hoje (ontem), a alta nas taxas de juros pode chegar a 3,5 pontos percentuais. Isso vai inibir ainda mais o consumo", afirma Flávio Pacheco, vice-presidente da Acrefi, que reúne as financeiras.
Wanderley Vettore, diretor do Banco Cacique, prevê um acréscimo entre 1 e 1,5 ponto percentual nas taxas de juros a partir da metade da semana que vem.
"Vamos repassar integralmente para as taxas cobradas das lojas o aumento no nosso custo de captação do dinheiro. Isso provavelmente deve ter reflexo negativo no consumo", diz Vettore.
Para ele, a manobra do governo de subir os juros dos títulos públicos penaliza indiretamente as vendas a prazo. São elas que sustentam os negócios do comércio desde a entrada do real.
Os números da Associação comercial de São Paulo (ACSP) mostram que as vendas a prazo cresceram 1% entre os dias 1º e 9 de março sobre igual período de fevereiro. Em relação a março de 1994, a alta foi de 35,3%.
Já os negócios à vista continuam em queda neste mês. No nove primeiros dias de março, as vendas à vista, com cheque, caíram 1% em relação a igual período do mês passado, segundo a ACSP. "Essas medidas têm impacto no movimento do comércio a médio prazo", afirma Marcel Solimeo, economista da ACSP.
Segundo o economista, o comportamento das vendas vai depender de como o mercado vai entender a nova política do governo.
"Apesar de o consumidor ser pouco sensível a taxa de juros, ela já está num patamar tão alto que qualquer elevação afeta as vendas", diz Solimeo.
Para Cecília Adelino Pinto, gerente de crédito direto ao consumidor do Banco Panamericano, que financia 247 lojas, vai cair a procura por financiamentos.
Ontem a financeira não havia alterado taxas de juros que giravam em torno de 8,5% ao mês. "Não adianta sair na frente. Primeiro é preciso avaliar como o mercado vai reagir", diz Cecília.
Ontem, o Mappin também não havia alterado a taxa de 9,8% ao mês para o crediário em até 12 vezes, que representa 18% das vendas da loja.
"Por enquanto mantivemos os juros. Estamos estudando o impacto das novas medidas", diz Sérgio Orciuolo, diretor.
A rede de lojas Cem resolveu manter os juros em 10,8% ao mês até renovar os financiamentos com os bancos.
Natale Dalla Vecchia, sócio da rede, acredita que a subida dos juros não deve afetar o movimento. Motivo: a alta nas taxas deve ocorrer em todas as redes do varejo.

Texto Anterior: Conheça a íntegra das medidas da Fazenda e do Banco Central para alterar a política cambial
Próximo Texto: Empresas já refazem seus planos e se preparam para exportar mais
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.