São Paulo, sábado, 11 de março de 1995
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Empresas já refazem seus planos e se preparam para exportar mais

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

As mudanças na política cambial, favoráveis às exportações, levam empresas a reverem seus planos de vendas no exterior.
A AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) refez seus cálculos e já prevê para este ano saldo comercial de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões. Em 1994, foi da ordem de US$ 10 bilhões.
"Em janeiro, trabalhávamos com a expectativa de que o déficit comercial poderia chegar a US$ 2 bilhões em 1995", diz Marcus Vinícius Pratini de Moraes, presidente da AEB.
"A mexida no câmbio sinaliza que o governo quer ver mesmo as exportações fluírem. Assim, empresários estão reavaliando suas estratégias."
Carlo Barbieri, presidente da Associação Brasileira de Empresas Trading, diz que a mexida no câmbio já trouxe estímulo às exportações em vários setores, tais como siderúrgico, calçadista, de máquinas e de confecção.
A Sadia, que reduziu no ano passado de 25% para 20% a participação das exportações no seu faturamento, na comparação com 1993, se prepara para recuperar as vendas ao exterior.
"Exportamos US$ 450 milhões em 1994 e prevíamos embarcar US$ 400 milhões neste ano. Mas achamos que podemos voltar aos números do ano passado", afirma Luiz Furlan, presidente do conselho de administração da Sadia.
Para ele, as empresas que vendem ao exterior também voltam a se animar com a expectativa da regulamentação da Medida Provisória 905. Essa MP isenta as exportações do PIS e da Cofins.
"Isso trará uma economia de 5% a 6% ao exportador. Se essa MP for regulamentada, haverá saldo na balança comercial a partir de maio."
A Marcopolo, fabricante de ônibus e carrocerias, também sente espaço para aumentar vendas ao exterior. No ano passado, embarcou o equivalente a US$ 61 milhões, 40% do seu faturamento, de US$ 200 milhões.
"Chegamos a ter 50% da receita comprometida com as exportações. Acho que vai dar para voltar a isso neste ano."
Com o câmbio favorável e a possibilidade de o governo desonerar as exportações, diz ele, dará para participar da concorrência para renovação da frota de ônibus da Argentina, Chile, Peru e Equador.
A Morando, fabricante de máquinas para a indústria cerâmica, já começa até a reexaminar suas tabelas de preços para o mercado externo.
"Seguramente, agora dá para exportar mais", afirma Giulio Lattes, diretor da Morando e do departamento de comércio exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
A expectativa da Morando para este ano é a de exportar US$ 4,5 milhões. No ano passado, foram US$ 3,5 milhões. "Antes das medidas, prevíamos embarcar menos."
Para ele, com o câmbio favorável às exportações, muitas empresas voltarão a se dedicar aos mercados interno e externo e isso pode aumentar o nível de atividade das fábricas.
Anderson Birman, sócio-diretor da Arezzo, fabricante de calçados, acha que se as exportações forem muito vantajosas, os empresários podem até dar mais atenção ao mercado externo.
"Mas o fato é que não é fácil reconquistar clientes. No caso de calçados, por exemplo, só poderemos participar da concorrência da coleção outono-inverno para 1996."
Os grandes importadores mundiais, continua ele, planejam a compra com seis meses de antecedência. Assim, a coleção primavera-verão já foi adquirida.
A Arezzo chegou a exportar 20% da produção, de 150 mil pares por mês. Do início do real até agora, reduziu o percentual para 5%. "Tudo indica que vai dar para retomar as exportações."
Exportadores lembram que a redução dos custos portuários é também importante para os produtos brasileiros competirem no exterior.

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