São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Governo é "ruim de serviço", diz Quércia

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O cheque em branco que o PMDB passou ao governo Fernando Henrique Cardoso está ameaçado em várias frentes. O principal risco ao casamento deve ganhar força hoje com a provável vitória do grupo de Orestes Quércia nas eleições para os diretórios municipais do PMDB paulista.
"Esse pessoal é ruim de serviço", diz Quércia sobre a administração tucana. O ex-governador de São Paulo disputa hoje o primeiro round da luta contra Luiz Antonio Fleury, Luiz Carlos Santos (líder do governo na Câmara) e Arnaldo Jardim pelo controle do PMDB paulista. Os delegados escolhidos hoje vão eleger em maio a nova direção do PMDB no Estado.
Os quercistas devem obter uma vitória folgada no interior. Na capital e região metropolitana, esperam-se confrontos equilibrados.
"O partido não vai optar pelo suicídio e votar a favor do câncer", dramatiza Santos, para quem a pregação de Quércia contra o Plano Real representa a torcida disfarçada pela volta de uma doença mortal, a inflação.
Atento, o presidente nacional do PMDB, Luiz Henrique, não esconde que o "acirramento" da disputa Quércia-Fleury pode prejudicar a lua-de-mel do partido com FHC. "São Paulo é o centro nervoso do país e não há como um tema paulista deixar de ser nacional", declara Luiz Henrique.
Luiz Henrique, porém, lembra que a decisão de aderir ao governo —e de, em consequência, ganhar cargos— foi tomada com o apoio da direção paulista do PMDB.
"O PMDB é o único partido que pode fazer as transformações sociais no Brasil e para isso é preciso purificá-lo", brada Quércia.
A obsessão do candidato derrotado à Presidência em 94 é, primeiro, impor uma derrota humilhante a Fleury. O segundo objetivo de Quércia é, com a manutenção do cacife de dono do PMDB no Estado mais importante do país, voltar a ser uma pedra no sapato dos governistas do partido e, é claro, impor dificuldades a FHC.
"O que está em jogo em São Paulo é uma visão de que o partido deve buscar apoio político para a estabilização contra outra de postura oposicionista por conveniência pessoal", diz Jardim.
A posição abnegada de Jardim contra a "esperteza" de Quércia não é a mais perfeita tradução do conflito interno do PMDB de São Paulo. Não há anjo no tiroteio.
Jardim e Santos, por exemplo, tentam de todas as maneiras negar que estejam atuando junto com Fleury. Explica-se: Fleury hoje é um fardo pesado até no partido.
Mas um dia depois de retornar de uma viagem aos Estados Unidos, Fleury teve uma longa reunião com Jardim para articular o grupo antiquercista.
Tido como um dos mais "profissionais" entre os políticos brasileiros —pelo menos até a acachapante derrota na eleição de 94—, Quércia enfrenta pela primeira vez a oposição de outros "profissionais" no PMDB paulista.
Luiz Carlos Santos é considerado um dos mais habilidosos e pragmáticos peemedebistas. Forte nos bastidores, já foi adversário, depois aliado de Quércia, aproximou-se dos tucanos via amizade com Itamar Franco e, assim como o ex-governador, tem o hábito de escorar suas campanhas eleitorais numa sólida estrutura financeira.
Jardim começou sua militância no movimento estudantil, nos anos 70. O discurso esquerdista foi abrandando ao mesmo tempo em que se aproximava de Quércia.

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