São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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"Eu vi o desperdício num órgão público"

Ex-presidente do Inmetro aponta erros

NELSON BLECHER; FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O consultor paulista Dino Mocsányi, 39, conta neste depoimento que se confrontou com episódios de irracionalidade e desperdício do setor público em 1990 e 91, quando presidiu o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia).

"Apenas 10% das obras em andamento tinham justificativa. Indaguei para que serviriam novos laboratórios e a resposta foi: 'primeiro construímos, depois decidimos'. Estava em construção um auditório em local distante, que seria utilizado apenas quatro vezes por ano.
Esse tipo de mentalidade é herança do gigantismo. A premissa é: quanto mais prédios, mais poder.
As áreas de qualidade industrial e normatização, que são complementares, vinham operando com estruturas próprias. Tivemos de fazer um seminário com psicóloga para eliminar conflitos pessoais e unificar os setores.
Tais mudanças ocorrem sem sobressaltos na iniciativa privada. No setor público são tidas como exóticas. É extremamente desgastante dirigir um órgão público, se não se quer entrar na onda do desperdício.
Alguns obstáculos não consegui vencer. A operação de fiscalização, a chamada metrologia legal, é conduzida pelos institutos de pesos e medidas onde prevalecem, na maioria dos Estados, as nomeações políticas.
A falta de flexibililidade na gestão dos itens do orçamento também induz ao desperdício. Se existe uma dotação de R$ 100 mil para manutenção de veículos, por exemplo, e são necessários apenas R$ 47 mil, a legislação não permite o remanejamento do saldo da verba.
O resultado é que há fortes pressões de gastos sem necessidade.
O negócio principal de uma siderúrgica é lingote de aço. Mas, nas mãos do Estado, milhares de horas foram gastas em programa de computador para recenseamento odontológico dos funcionários...
A reengenharia só vai funcionar quando órgãos públicos estiverem ameaçados de falência e os funcionários de perder seus empregos.
(NB e FCz)

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