São Paulo, domingo, 12 de março de 1995 |
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"Eu vi o desperdício num órgão público" Ex-presidente do Inmetro aponta erros NELSON BLECHER; FERNANDO CANZIAN
"Apenas 10% das obras em andamento tinham justificativa. Indaguei para que serviriam novos laboratórios e a resposta foi: 'primeiro construímos, depois decidimos'. Estava em construção um auditório em local distante, que seria utilizado apenas quatro vezes por ano. Esse tipo de mentalidade é herança do gigantismo. A premissa é: quanto mais prédios, mais poder. As áreas de qualidade industrial e normatização, que são complementares, vinham operando com estruturas próprias. Tivemos de fazer um seminário com psicóloga para eliminar conflitos pessoais e unificar os setores. Tais mudanças ocorrem sem sobressaltos na iniciativa privada. No setor público são tidas como exóticas. É extremamente desgastante dirigir um órgão público, se não se quer entrar na onda do desperdício. Alguns obstáculos não consegui vencer. A operação de fiscalização, a chamada metrologia legal, é conduzida pelos institutos de pesos e medidas onde prevalecem, na maioria dos Estados, as nomeações políticas. A falta de flexibililidade na gestão dos itens do orçamento também induz ao desperdício. Se existe uma dotação de R$ 100 mil para manutenção de veículos, por exemplo, e são necessários apenas R$ 47 mil, a legislação não permite o remanejamento do saldo da verba. O resultado é que há fortes pressões de gastos sem necessidade. O negócio principal de uma siderúrgica é lingote de aço. Mas, nas mãos do Estado, milhares de horas foram gastas em programa de computador para recenseamento odontológico dos funcionários... A reengenharia só vai funcionar quando órgãos públicos estiverem ameaçados de falência e os funcionários de perder seus empregos. (NB e FCz) Texto Anterior: Ao ritmo do canto triste de um mariachi Próximo Texto: Corrupção emperra o desmonte do Estado Índice |
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