São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reengenheiro de Clinton fala sobre "revoluções"

John Kamensky prepara programa de privatizações nos EUA

FERNANDO CANZIAN; NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Braço direito do vice-presidente Al Gore, o norte-americano John Kamensky é o diretor-executivo do "National Performance Review", o programa de reengenharia do setor público dos EUA iniciado em 1993 pelo presidente Bill Clinton.
Em 18 meses de "revoluções internas", o programa já cortou US$ 63 bilhões em gastos e dispensou 102 mil funcionários públicos.
"Estamos caminhando mais rápido do que prevíamos", disse Kamensky, de Washington, em entrevista telefônica à Folha.
Segundo adiantou, o presidente Clinton deve anunciar nas próximas semanas um ambicioso programa de privatizações —consequência da segunda fase da reengenharia do Estado norte-americano. Leia a seguir trechos da entrevista:
Folha - Quais as fases do programa?
John Kamensky - São duas. Na primeira, iniciada em setembro de 1993, procuramos entender como o governo funcionava ao mesmo tempo em que introduzíamos pequenas mudanças para simplificar as operações. Na segunda fase, a atual, introduzimos um pacote de mudanças mais profundas, com medidas aprovadas no Congresso, e estamos revendo mais uma vez toda a administração.
Passamos a questionar onde e como o governo deve continuar atuando. E se deve continuar atuando. Estamos determinados a privatizar tudo o que não interessar.
Nas duas fases, é preciso desregulamentar o governo, dar mais liberdade a órgãos e empresas estatais e aumentar a ênfase sobre os funcionários que estão em contato direto com os consumidores.
Descobrimos, por exemplo, que um em cada três funcionários públicos ocupavam funções gerenciais ou de supervisão. Resolvemos cortar isso, privilegiando o funcionalismo que tem contato com o público final.
Folha - Quais as mudanças que passaram pelo Legislativo?
Kamensky - Basicamente, a reforma no sistema de compras do Estado para torná-lo menos burocrático e centralizado, sempre dentro de orçamentos, e o pacote que introduziu mecanismos para medir e cobrar o desempenho dos órgãos públicos.
Folha - O sr. poderia exemplificar estas mudanças?
Kamensky - Um exemplo: em quase todas as agências federais era necessário, até antes da reestruturação, a assinatura de 23 gerentes para que um departamento comprasse um computador. Atualmente, um gerente pode ir à loja e comprar a máquina com seu cartão de crédito. É só justificar o gasto em um orçamento. Demos mais autonomia aos funcionários, mas também criamos sistemas de controle desburocratizados.
Folha - Quantos órgãos da administração estão envolvidos na reestruturação?
Kamensky - Todas as 24 agências federais (Departamento de Estado, Justiça etc) e 120 órgãos secundários, muitos dos quais subordinados às 24 agências.
Na primeira fase do programa, trabalhamos com uma equipe de 250 técnicos que tinham as linhas gerais do programa e poder para executar. Na segunda fase, reduzimos o efetivo para 70 pessoas, que são, em sua maioria, funcionários dos órgãos e agências que estão sendo reestruturados.
Folha - O sr. poderia detalhar os cortes obtidos até o momento?
Kamensky - Em setembro de 1993, a meta era gerar uma economia de US$ 108 bilhões em cinco anos. Em menos de um ano e meio de programa já apresentamos ao Congresso cortes de US$ 63 bilhões. Estamos caminhando mais rápido do que prevíamos.
A economia vem de uma simplificação dos procedimentos, que levam imediatamente a gastos menores, e da diminuição do número de funcionários.
Folha - Quantos e como foram cortados?
Kamensky - A meta, em setembro de 93, era eliminar 252 mil pessoas. Já cortamos 102 mil. Devemos atingir nossa meta em 96. Os cortes foram concentrados nas funções intermediárias. Basicamente, oferecemos dinheiro e condições privilegiadas para que os funcionários se aposentassem.
Folha - Quais são os exemplos desta "simplificação de procedimentos"?
Kamensky - São inúmeros. No departamento que cuida da habitação costumávamos ter 60 projetos sendo tocados simultaneamente. Diminuímos isso para apenas três bons projetos básicos. O dinheiro não está mais disperso e é melhor empregado agora.
No caso do programa para deficientes físicos, reduzimos de 100 dias para 60 o prazo para começar a pagar benefícios. Eliminamos departamentos, etapas e carimbos que estavam no meio do caminho entre quem pagava e quem recebia o dinheiro. Agora, na segunda fase do projeto, é o próprio programa para deficientes que está sendo questionado. Será que não poderia ser substituído por algo melhor?
Além disso, encontramos fundações em várias áreas, como uma tal Fundação Cristovão Colombo, que não serviam para nada. Tudo isso foi fechado.
(FCz e NB)

Texto Anterior: Estatais remam contra a eficiência
Próximo Texto: Reforma na Argentina custou US$ 1 milhão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.