São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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SP engorda carioca e praia 'afina' paulista

CRISTINA GRILLO; MAURÍCIO STYCER
DA SUCURSAL DO RIO

Se fossem obrigados a morar no Rio, 59% dos paulistas passariam a se preocupar mais com o corpo. O contrário não ocorreria. Só 9% dos cariocas se preocupariam com o corpo se fossem para São Paulo.
Veja o que aconteceu com um paulista e um carioca que trocaram de cidades:

Três quilos a menos, alguns músculos a mais e uma crescente insatisfação com as gordurinhas que ainda lhe restam. Este é o saldo apresentado pelo paulista Nicolino Spina, 35, diretor de marketing da Pepsi, depois de um ano e três meses morando no Rio.
A mudança de cidade causou uma reviravolta na rotina de Spina. Antes pouco preocupado com o corpo, ele ficou "com peso na consciência" ao chegar ao Rio.
Por isso, o executivo passou a se exercitar todos os dias depois do trabalho. "Tive que acompanhar o pique dos cariocas", diz.
Spina acorda às 7h e trabalha até às 18h na sede da empresa em Botafogo, zona sul do Rio. Ele é um dos responsáveis pela estratégia da empresa na "guerra das colas" —a disputa pelo mercado dos refrigerantes sabor cola.
"De tanto olhar da minha janela aquela gente toda correndo na praia, fazendo ginástica, resolvi me cuidar também", conta Spina.
O executivo, que mede 1,77 m, pesava 83kg ao chegar no Rio.
Spina hoje corre quatro quilômetros por dia. Depois, vai para a piscina de seu prédio, onde nada mais 500 metros. Cinco vezes por semana, ele gasta pelo menos uma hora e meia se exercitando.
"Não estou satisfeito. Queria ter menos gordura, emagrecer mais, ser mais atlético. O que faço é o mínimo, mas não dá tempo para mais", diz o novo convertido à tribo dos atletas cariocas.
Depois da mudança para o Rio, Spina passou também a cuidar mais de sua alimentação. Sem radicalismos, segundo ele. Nada é proibido, mas tudo é reduzido.
"Jamais seria vegetariano ou macrobiótico, acho isso muito sem graça. Evito gorduras mas como carne vermelha. Se almoço muito, janto pouco", explica.
Cigarro e bebida estão fora da vida do executivo. Refrigerantes, só na versão diet. A rotina saudável de Spina é completada com uma longa noite de sono.
Em São Paulo, Spina diz que sua preocupação era bem menor. "A grande diferença é que em São Paulo, quando chega o fim-de-semana, você sai vestido. No Rio, você põe pouca roupa e vai para a praia. Essa é a hora cruel, quando aparece a barriguinha", afirma.

Dois anos depois de trocar o Rio por São Paulo, o produtor de comerciais Eduardo Santoro já sabe que não conquistou apenas um emprego melhor: ganhou também 10 quilos adicionais.
"No Rio, jogava vôlei, nadava na praia, corria no calçadão. Em São Paulo, não tem praia e acho enfadonho malhar em academias. Por isso, acabei dançando", diz.
Carioca da gema, 24 anos, 1,77 m, Santoro pesava 65 quilos quando morava no Rio. "Não conseguia engordar nem querendo. O exercício me ajudava a manter o equilíbrio".
Hoje, pesando 75 quilos, o produtor busca compreender o fenômeno: "O ritmo de trabalho é muito mais intenso e não tenho hora para almoçar ou jantar. Acabo comento muita porcaria, junk-food, pizza, essas coisas".
Um dos problemas, especula Santoro, é que a oferta de restaurantes naturais e macrobióticos no Rio é maior que em São Paulo. "No Rio, é mais fácil se alimentar de forma mais saudável".
Para enfrentar o problema, Santoro já admite a idéia de entrar numa academia. "Mas numa academia com piscina. Para ficar perto da água", diz, saudoso da praia.

Colaborou MAURICIO STYCER, da Reportagem Local

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