São Paulo, domingo, 12 de março de 1995 |
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Sufoco no mercado cambial
ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR. A agitação no mercado cambial nesta última semana foi brutal. E o que é mais relevante: desproporcional ao tamanho do problema.A semana começou com o anúncio da adoção da banda cambial para o preço do dólar, por parte do BC. Logo na manhã de segunda-feira o mercado absorveu a notícia sem maior ansiedade. Muitos entenderam que a medida era necessária e representava uma flexibilização recomendável do câmbio. Mas, à tarde, alguns operadores de câmbio foram avisados pelo BC de que a banda anunciada pela manhã para valer em março e abril poderia ser mudada, se isso fosse necessário. O problema é que apenas algumas instituições foram avisadas; o restante dos operadores não o foi. E a partir daí começou a agitação. Se os limites poderiam ser mudados, por que chamar isso de banda? Se o teto da banda viesse a subir, como ter garantias de que não haveria outras mudanças? Por que passar uma informação como essa só para alguns e não para outros? O mercado passou então a operar baseado em um clima de crescente ansiedade e de pouca lógica. As notícias ruins vindas do México e da Argentina serviram para ir criando uma atmosfera que beirou o pânico na quinta-feira à tarde. As medidas adotadas pelo BC na sexta-feira tiveram o propósito de segurar o estouro da boiada. Aos poucos a racionalidade voltará a presidir o mercado. Mesmo a taxa de juros elevadíssima deverá refluir para os patamares já incivilizados em que se encontrava na semana anterior. Importa sublinhar algumas coisas. Primeiro, a semana serviu para mostrar como são críticos os chamados mercados cambiais. Este preço chamado de "taxa de câmbio" afeta toda a economia. Por isso, não se pode brincar de deixar a taxa de câmbio tão defasada como estava pois isso equivale a semear ventos para o futuro. E quem semeia ventos... Segundo, a mudança na política cambial foi absolutamente correta. Ficar esperando um impasse maior para o futuro seria um erro a ser pago com um custo ainda maior. Terceiro, a agitação e especulação contra o BC ocorreu não por se ter adotado a banda cambial, mas pelos erros graves e evitáveis de implementação. Parece até que isso vai virando moda no país. As dificuldades nos mercados cambiais do México e da Argentina ainda podem trazer novas apreensões nas próximas semanas. A repetição de notícias ruins está criando um clima de incerteza em todos os mercados latino-americanos e deverá afastar muitos investidores estrangeiros. Ao menos o BC brasileiro sinalizou inequivocamente que procurará defender as contas externas, evitando ter sido apanhado com reservas baixas. Tudo isso equivale a absorver alguns custos dentro da economia. A inflação pode subir um pouco, decorrente da volatilidade da área cambial. Mas este é um preço suportável. Vamos repetir algo que dissemos na coluna de 4 de dezembro (antes da crise do México): "não vale a pena levar parte da indústria a uma situação de "corner" (devido à defasagem cambial) para, depois que passar a euforia dos fluxos especulativos, ficar com a conta na mão". Hoje já se vê que não vamos mesmo poder acumular esta conta. O susto foi grande. ÁLVARO A. ZINI JR., 42, é professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP e autor do livro "Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil (Edusp, 1993). Texto Anterior: Resposta à desordem global Próximo Texto: Teoria das restrições se aproxima da qualidade Índice |
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