São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Juro é arma contra a corrida ao dólar

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

A alta dos juros domésticos foi a arma decisiva do conjunto de medidas baixadas pelo governo, na sexta-feira passada, para deter a corrida ao dólar.
Essa corrida foi detonada no início da semana pela forma desastrada com que o Banco Central operou a mudança na política cambial.
Embora com quatro dias de atraso, o aumento dos juros inibiu a especulação com o câmbio.
Foi o tiro de misericórdia nos movimentos especulativos com o dólar, pois ficou mais lucrativo deixar dinheiro aplicado em reais do que em apostas na desvalorização da moeda norte-americana.
O BC elevou de 3,22% para 4,25% a taxa efetiva de março no overnight com títulos públicos federais (Selic), no qual se formam todas as demais taxas domésticas.
Essa taxa equivale a um juro de 64,78% ao ano, com um salto de mais de 18 pontos percentuais sobre os 46,27% que estavam sendo praticados até o dia anterior.
A intervenção no overnight foi feita depois de três dias em que o BC retirou reais do mercado financeiro ao vender dólares para tentar conter a corrida para a moeda norte-americana.
O resultado foi que todas as demais taxas de juros subiram mais, começando pelo overnight com Certificados de Depósitos Interbancários (CDI-over), no qual os bancos trocam dinheiro entre si. A taxa efetiva do CDI-over para março, que estava em 3,31%, subiu para 5,02%, equivalente a 80% ao ano.
Os bancos encerraram a semana pagando 77% ao ano para os grandes investidores de CDB prefixado. Ela corresponde a uma rentabilidade bruta mensal de 5,04% e de 4,54% líquidos após o IR na fonte.
Também saem favorecidos a poupança —já que o seu indexador (TR) é formado pela média de três dias dos CDBs prefixados— e os fundos de investimentos que têm títulos de renda fixa (públicos e privados) em suas carteiras.
O dólar paralelo, que subiu no auge da onda de pânico e de especulação, tende a perder fôlego.
As Bolsas de Valores continuam na zona de risco, apesar da eufórica reação na sexta-feira, quando subiram 25,62% em São Paulo e 16,8% no Rio de Janeiro. Até porque as valorizações podem estimular pesadas vendas de quem está perdendo dinheiro por especular com o dólar e precisa fazer de caixa para cobrir os prejuízos.

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