São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Concorrência interna

DEMIAN FIOCCA

A transição para os novos limites de flutuação do dólar deixou sequelas sobre a credibilidade do real. A excepcional elevação dos juros e a possibilidade de que o FMI, BID e Banco Mundial concedam empréstimos de socorro à Argentina conseguiram restabelecer a calma na sexta-feira. Mas o cenário mudou.
A atuação desastrada do Banco Central fortaleceu a especulação contra o real e a fuga para o dólar; acelerou a perda de confiança na estabilização. A crise, porém, é um fenômeno de fundo. A dependência do financiamento externo torna o Plano Real frágil.
A elevação de tarifas, a desvalorização e as restrições ao movimento de capital são acertadas reações à drástica mudança no cenário internacional. Mas talvez seja pouco. Se o problema fosse uma estrada esburacada, bastariam cuidado e firmeza. Mas se há um muro à frente, é preciso corrigir a rota.
A contenção de preços pela concorrência externa é inviável num ambiente em que as entradas financeiras cessaram. Na impossibilidade de manter a abertura radical às importações, é necessário buscar outros meios de controlar a inflação. O controle da demanda agregada é importante. Mas sem concorrência interna sua eficácia é reduzida.
Estudo da Profa. Lúcia Helena Salgado, do Ipea, mostra que a concentração de capital no Brasil é em média três vezes superior à considerada altamente preocupante nos EUA. A firme aplicação da lei antitruste implica enfrentar alguns dos maiores interesses do país. Mas sem reduzir o poder de mercado desses grupos não há como substituir a concorrência externa pela interna.
A política econômica do México e da Argentina, apesar de socialmente deletéria, foi possível enquanto a América Latina era o objeto do desejo do capital especulativo. Não é mais.

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