São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Dinheiro especulativo fica mais no Brasil

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da preocupação do presidente Fernando Henrique Cardoso, o Brasil é o país da América Latina onde o chamado "capital especulativo" de curto prazo tende a ficar por mais tempo.
O Brasil é o país latino-americano com a maior proporção de investimentos dedicados exclusivamente à região, segundo levantamento feito com exclusividade para a Folha pelo Banco Patrimônio de Investimento, associado à corretora Salomon Brothers (EUA).
Como é proibido a pessoas físicas estrangeiras investir diretamente nas Bolsas brasileiras, a maior parte do dinheiro que entra é por intermédio de fundos de investimento. E há dois tipos de fundo.
Há os fundos que têm uma região específica para investir e os que trafegam pelo planeta inteiro à procura dos melhores papéis.
Os fundos dedicados ou específicos estão sem grandes opções na América Latina. Foram criados para investir na região. Ao retirar o dinheiro do Brasil, ficam com as amargas opções dos países vizinhos —em situação econômica tão ou mais complexa que a brasileira.
"Outra possibilidade seria um fundo desses apenas vender as ações e ficar com o dinheiro em carteira. Mas essa posição não é sustentável por muito tempo", diz Jair Ribeiro da Silva Neto, diretor do Banco Patrimônio. Em dezembro de 1994, o Brasil tinha US$ 10,962 bilhões de investimentos em Bolsas vindos de fundos específicos. E mais US$ 5,290 bilhões dos chamados fundos globais.
A proporção, portanto, era de 67,5% do dinheiro "especulativo" em fundos dedicados e 32,5% em fundos globais. Mesmo com a queda do valor nominal das ações este ano, a proporção se manteve.
Nos países vizinhos, a situação é completamente diversa. A Argentina tinha em dezembro de 94 US$ 2,486 bilhões (22,8%) em fundos dedicados e US$ 8,416 bilhões (77,2%) em fundos globais.
O México, em dezembro, tinha US$ 9,745 bilhões (28,3%) em fundos dedicados e US$ 24,655 bilhões (71,7%) nos globais.
FHC levantou a discussão sobre a liberdade de movimento dos capitais especulativos quando visitou o Chile, no início do mês. Assustado com a crise do México, ele defende uma "rede de proteção" internacional para limitar a velocidade com que operadores possam retirar investimentos de um país.

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